domingo, 20 de novembro de 2011

Circular 2: Vuelo

Circular 2: Vuelo: Tanto gustaba de exibir su vuelo que un día su voladora elegancia tomó su lugar en la existencia. Los pájaros que aquí volaban hace mucho ...

quarta-feira, 29 de junho de 2011

Os portões da cidade fantasma


Só quem passa munido daquela boa vontade e de muita paciência consegue entrar nesta cidade. Ela se esconde silenciosamente por detrás de uma máscara de cidade dura, real, material que, tal qual um sujeito muito gordo, suado e ofegante se põe à sua frente, tomando toda a passagem. E não só a passagem, como nossa vontade de passar. Poderíamos chamá-la de cidade fantasma, vestida de um espectro transparente, assombrado. E realmente ela possui essa característica tão fantasmagórica, assustadora. Parece alimentar-se das almas-de-outro-mundo que não a esquecem, em seus paletós de linho branco e chapéus de palhinha panamá. Porém não é nada disso. Ela não é fantasma, apenas cansou-se das mazelas do mundo em dado momento, e trancafiou-se por detrás dessa máscara de ferro, fornecida pelos homens mais astutos da época. Elaboraram um plano, um pano, um cenário e a vestiram de cidade dura. Esta vinha munida de forças extras, gananciosas, mesquinhas, enganadoras. E estas forças, por ventura, ainda estão lá, mentindo e nos enganando. Deve-se estar muito atento para não se perder na violência da realidade e nunca mais conseguir voltar para nosso mundo. Ao se passar pela calçada esquerda do Baobá a realidade começa a se transfigurar. Feito flashes de um filme tão antigo, as arestas dos prédios, o asfalto, as linhas retas, começam a entrar em defasagem entre o que se vê e o que realmente se sente. A partir daí abrem-se os portões para os jardins da cidade antiga. Não é fácil vê-la, mas ela está sempre nos vendo. Divertindo-se às nossas custas, feliz de não precisar conviver conosco, com toda a paz e a tranquilidade de quem tem tempo para enxergar os passarinhos.

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Poesia de monturos

Sou apaixonado por esse prédio...


Quero viver-te tudo de novo. O que já viveu. Vê-lo emergir desse banho de pátina que o desamor te deu. Queria tirar essa máscara onde escondes sei lá o quê. Mas sei que o que imagino vai muito além da tua capacidade de não ser. Mais. Ser mais. Lugar é vento, nascendo ao sol, crescendo. E quando, de dentro para fora ergueres teus pés, uma aurora de cores quentes: amarelos, vermelhos, ocres; queimados ao sol, lambidos de vento. Aprisionados nessa caixa de pandora às avessas, em que os males aprisionam os bens; em fios, cimentos, tijolos... E tu não vens, não vens... simplesmente. Só o tempo, egoísta, chupando tuas carnes, cuspindo teus caroços e nos escarrando teus bagaços.
Mas espero vê-lo um dia (é preciso sonhar)! E viver é sonhar! Pois quero viver-te tudo de novo, nobre abrigo de ruínas, resplandecendo sob nova manhã, tecida e tingida dessa poesia de monturos...


"Rua Conde D'Eu, n. 462


O edifício se encontra em frente à Sé, na esquina da Travessa Crato, é um prédio de dois andares, com proporções elegantes e com profusa decoração. Tem 16 portas, (com elegantes molduras encimadas por elementos florais e marcadas ao seu centro por uma chave de arco), no andar superior correspondentes ao andar térreo, já alteradas. Destaca-se ao balaústres fundidos que só decoram a parte anterior, sendo internamente planos. Sua fachada possui elementos decorativos geométrico e são arrematadas por um coroamento discreto e elegante no centro e nas esquinas do edifício.


Dados gerais:
Endereço: Rua Conde D'Eu, 462
Bairro: Centro
Nome conhecido: Casa das Redes
Proprietário: Tereza Távora


Classificação cultural:
Época da construção: primeira metade do século XIX
Data da construção: desconhecida
Autor: desconhecido
Estilo: eclético
Uso original: comércio
Uso atual: comércio"


Retirado de: Guia Arquitetônico Fortaleza Centro, de José Capelo Filho e Lídia Sarmiento

terça-feira, 21 de junho de 2011

O drama de Angélica

Esse sim é um dos melhores exemplos da tragédia brasileira. Belíssimo, engraçado, inteligente... fantástico!




O Drama de Angélica
(Alvarenga e Ranchinho)
(Composição: Alvarenga e M. G. Barreto)

Ouve meu cântico quase sem ritmo
Que é a voz de um tísico magro esquelético...
Poesia ética em forma esdrúxula
Feita sem métrica com rima rápida...

Amei Angélica mulher anêmica
De cores pálidas e gestos tímidos...
Era maligna e tinha ímpetos
De fazer cócegas no meu esôfago...

Em noite frígida fomos ao Lírico
Ouvir o músico pianista célebre...
Soprava o zéfiro ventinho úmido
Então Angélica ficou asmática...

Fomos ao médico de muita clínica
Com muita prática e preço módico...
Depois do inquérito descobre o clínico
O mal atávico mal sifilítico...

Mandou-me célere comprar noz vômica
E ácido cítrico para o seu fígado...
O farmacêutico mocinho estúpido
Errou na fórmula, fez despropósito...

Não tendo escrúpulo deu-me sem rótulo
Ácido fênico e ácido prússico...
Corri mui lépido mais de um quilômetro
Num bonde elétrico de força múltipla...

O dia cálido deixou-me tépido
Achei Angélica já toda trêmula...
A terapêutica dose alopática
Lhe dei em xícara de ferro ágate...

Tomou num fôlego triste e bucólica
Esta estrambólica droga fatídica...
Caiu no esôfago deixou-a lívida
Dando-lhe cólica e morte trágica...

O pai de Angélica chefe do tráfego
Homem carnívoro ficou perplexo...
Por ser estrábico usava óculos:
Um vidro côncavo o outro convexo...

Morreu Angélica de um modo lúgubre
Moléstia crônica levou-a ao túmulo...

Foi feita a autópsia todos os médicos
Foram unânimes no diagnóstico...
Fiz-lhe um sarcófago assaz artístico
Todo de mármore da cor do ébano...

E sobre o túmulo uma estatística
Coisa metódica como Os Lusíadas...
E numa lápide paralelepípedo
Pus esse dístico terno e simbólico:

"Cá jaz Angélica
Moça hiperbólica
Beleza Helênica
Morreu de cólica!"

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Waly...

Nasci sob um teto sossegado, meu sonho era um pequenino sonho meu.
Na ciência dos cuidados fui treinado, agora, entre o meu ser e o ser alheio, a linha de fronteira se rompeu, a linha de fronteira de rompeu!
(Waly Salomão)

domingo, 19 de junho de 2011

A casa de Deus

Fui, um dia desse, convidado pelo professor Marcondes, a assistir a apresentação dos projetos de arquitetura da disciplina ofertada por ele, lá na faculdade. Os projetos estavam ótimos, muito criativos, bem resolvidos, as turmas estão vindo cada vez melhores. O tema do projeto era "a casa de Deus" e quem deveria definir o que é isso era alguma criança que os projetistas conseguissem para entrevistar. Uma definição bem recorrente que apareceu, pelo menos entre os projetos que vi, era que a casa de Deus seria um local onde as pessoas se reunissem, onde houvesse o encontro e elas pudessem estar juntas, brincando, rindo, vivendo. Claro que isso dito por uma criança, com suas palavras, muito mais bem escolhidas do que as minhas...
Hoje Deus fez morada em minha cidade. Talvez fosse uma menina em uma bicicleta rosa. Talvez fosse os harmônicos do violão. O fato é que a praça viveu. Serviu de palco e platéia para o encontro. A sagração do Domingo ocorreu através do congraçamento. E a arte permeou as relações. Todos se entenderam sem quase precisar de palavras. A música foi o fio que teceu os entendimentos, e lubrificou as almas. A praça foi a casa de Deus. E eu, mais uma vez me vi criança e então me entendi divino, pois pude brincar em Sua morada.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Arquitetura Interior

Crânio de Palhaço - Escultura de Vik Muniz
Arquitetura feita assim, para construir-se
De fora para dentro, sem rugas nem tijolos
De dentro para fora, por janelas, abrir-se
Construindo-se em tudo o que puder os olhos

Arquitetura feita assim, por janelas nem tijolos
Bem maior que a solidão, a solidez dos encontros
De dentro para fora, encontrando-se os olhos
De fora para dentro poesia para passar os anos

Se fosse construção, não se levantaria
Dormiria aqui no peito, envolvida de silêncio
Se não fosse construção, talvez nem existia

Faz-se bonita, numa explosão alegre de cor
Manifesta-se em vários tons de liberdade
E assim, nos refazendo, uma Arquitetura Interior.


(João Lucas)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Surfando no inglês!

Recebi esse arquivo de áudio no meu email. Já bolei de rir. Me identifiquei com esse pobre locutor da rádio do litoral, surfando no inglês! Imaginei até eu travando uma discussão com ele, naquele idioma! Sensacional! Engraçadíssimo!

segunda-feira, 2 de maio de 2011

EUA ou Turquia?

Hoje pela manhã, tomei um susto quando vi a manchete do jornal gritando que Osama Bin Laden havia sido morto, logo depois senti-me bastante constrangido quando vi as fotos mostrando as comemorações nas ruas de Nova York. Não sou defensor de Bin Laden. Muito pelo contrário, não gosto nem um pouco dele. Na verdade não gosto de gente que mata gente. Por isso mesmo que me revirou o estômago ao ver as fotos de uma nação inteira cheia de sangue a escorrer pelos dentes, cantando, vibrando e comemorando não um título mundial, mas o assassinato de um ser humano. Se o assassinato de alguém conferir à família da vítima o direito de vingança, de assassinar um contrário para balancear as baixas, a carnificina não terá fim. São tantos os casos de famílias aqui no Nordeste. Não quero aqui entrar no mérito se ele merecia ou não, se os EUA vão ou não retirar suas tropas e os desenlaces que isso gerará... para isso existem jornalistas e cientistas políticos muito bem treinados. Só estou escrevendo esse texto para desabafar um sentimento estranho que me bateu, quando vi a satisfação de tantos pela morte alheia. E o que mais me apavora é que muitos desses se dizem cristãos, frequentam suas igrejas e cultivam seus ritos. A religião de Bin Laden não só permite, como também incentiva a matança dos inimigos... e ele foi morto por aqueles que pregam o perdão. E sua defuntência foi escrachada por aqueles que seguem os mandamentos de Deus... Não me pareceu em nenhum momento a vitória do bem sobre o mal. Me pareceu valores cruéis, machistas, gananciosos e mesquinhos triunfando sobre tantos outros valores tão quanto cruéis, machistas, gananciosos e mesquinhos.


Lembrei então de um texto formidável do Ariano Suassuna, que vou colocar um trechinho aqui.
No texto, cujo título é "o que podemos aprender da Turquia", ele comenta de uma viagem que teria feito àquele país, com um amigo que, por sua vez, esteve na Inglaterra. Conta do caso de Jack, o Estripador e fala da justiça britânica que é exemplar, que "na Inglaterra todo mundo é inglês, todo mundo é pela lei e pela justiça e, como não podiam acabar com a tragédia íntima de Jack, o Estripador, resolveram acabar com o próprio Jack, enforcando-o numa sexta-feira à tarde." Diz que por lá, as pessoas ou são "oito ou oitenta: o inglês ou é um perfeito cavalheiro, ou é logo ardente como nosso Jack e dá-se ao impulso de raptar e esquartejar mulheres. Brasileiro ignorante como sou, objetei a um desses rapazes que tinham roubado a bolsa de uma amiga minha nos Estados Unidos e as meias de um meu amigo em Londres; mas ele me explicou que nesses dois países viaja muita gente da canalha latina e que um desses velhacos era sem dúvida o responsável pelo furto reles: 'Se fosse um inglês, seus amigos teriam infalivelmente o gasnete cortado'."
Continua o texto e ele pára um pouco a reflexão sobre a justiça brasileira:
"Aqui no Brasil, as leis são razoáveis, mas o juízes, infelizmente, são latinos e mestiços irresponsáveis, os criminosos também, o promotor também, o advogado também; na hora do julgamento os criminosos choram, os outros acompanham, todo mundo tem senso de culpa, todo mundo tem a consciência pesada, ninguém quer atirar a primeira pedra e a desordem campeia, para nossa vergonha 'lá fora'".
E conclui o texto mostrando o exemplo da Turquia, onde também não acontecem mais crimes, porque lá teria sido abolido o conceito de crime! Vejam só:
"... na Turquia, onde estivera há pouco, e onde se resolveu o problema de maneira que, se é diferente da inglesa, é igualmente eficiente: os turcos para terminar com o problema de sua justiça - que antes, como a nossa, funcionava mal -, aboliram a noção de crime. Não há mais problema: sendo tudo permitido, não há mais processo, nem remorso, nem vergonha diante das 'nações exemplares'. Digamos, por exemplo, que um turco vá à Europa e, de volta, comece a encher seus patrícios, provando que os queijos suíços são mais bem feitos do que os turcos, que as mulheres holandesas são mais belas e mais bem vestidas do que as turcas: se um turco mais impaciente implica com isso, enche a cara de cachaça, vai procurar o viajado e dá-lhe uma navalhada no bucho, abrindo-o do pé da virilha ao pé do gogó. O poeta fina-se, acabam-se os artigos e não há problema com o impaciente, porque o crime foi abolido. Agora, se o poeta cívico possui algum irmão que nunca foi à Suécia e que é, portanto, tão atrasado de costumes quanto um brasileiro; se esse irmão resolve vingar a defuntência fraterna, mata o assassino e, como é de justiça, fica tudo por isso mesmo.
Eu disse a meu amigo que uma vez que o Brasil jamais poderia atingir a perfeição saxônica, o melhor seria seguirmos o caminho turco. Ele objetou que tal caminho lhe parece um tanto drástico, perguntando-me se a sociedade turca não tem estranhado a inovação. Eu expliquei que ia tudo bem: no começo houve alguns protestos da AJT (Associação dos Juristas Turcos), a qual deu uma nota oficial reclamando porque seus membros iam perder seus empregos. Mas antes que o Governo pudesse tomar conhecimento da nota, o CAC (Clube dos Assassinos de Constantinopla) extinguiu o problema, exterminando, a faca, todos os associados da AJT. O fato teve alguma repercussão, algumas jovens vocações de juristas foram, por essa repercussão, sufocadas no nascedouro e o problema turco da justiça foi definitivamente resolvido."


Assim é que por vezes, na sua política externa, os EUA mais me parecem a Turquia...

domingo, 1 de maio de 2011

nada a dizer... nada... ou quase nada...

Como diria genialmente Chico Anísyo através de seu personagem Baiano: 
"nada a dizer... nada... ou quase nada. O que tenho é a fazer... tudo... ou quase tudo!" 
"Essa frase vive nos cabelos encaracolados das cucas maravilhosas, mas se perdeu no labirinto dos pensamentos poluídos pela falta de amor!" Como também diria o mestre-rei Roberto.
É assim que estou das idéias atualmente. Cheio de colagens, pedaços, mosaicos. A vontade de fazer de tudo, idéias fervilhantes mas desconexas... Essa figura mitológica do Mercado cada vez mais me acanha no universo da especialização do trabalho e não me abre portas para minha alma a cada dia mais Renascentista. Tão bom seria se esse termo especialização viesse por criarmos coisas especiais e não puramente especializadas! Quero me insurgir contra o domínio da técnica e dizer que mesmo que o dinheiro compre até amor verdadeiro, o amor verdadeiro também é capaz de façanhas inigualáveis, inclusive, até, quem sabe, a de transformar o dinheiro e a técnica na mais pura felicidade! Depende muito de não colocarmos o carro (essa máquina feroz) na frente dos bois...

(amanhã, talvez eu consiga dizer mais alguma coisa...)

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Manx


A indizível força de ser e de sentir
sobrepujando a era de ter e possuir
- Some-se sujeito e escancare muros!
Propriedade em mim
que de mim já se fez tal
ou o mau se fez assim...
Objeto universo que de tão real
sai de mim uma outra idéia
mesmo que às vezes
sempre tudo igual
Volta pra mim uma outra idéia
indireta universo objeto
que de certo me anoitece
se me fecho com os olhos
que o mundo me oferece.
Parece. Até parece, porquê.
Se sentir-se é assim uma outra coisa
ou o amor já é de mim,
e é em mim só por você!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Nossa eterna alma de vira-lata...

Nelson Rodrigues é mesmo de lascar! Ele é aquele gênio que enxerga o óbvio. Cunhou frases sensacionais, que, de tão verdadeiras, muitas vezes soam cortantes. Hoje andando pela cidade com meu pai, íamos olhando e discutindo questões urbanísticas. Ao passar pelo Centro, nos perguntamos o porquê de apesar de existirem tantos projetos, tantas idéias boas, exeqüíveis, nada se faz pelo Centro. Chegamos à conclusão, que de tão óbvia não é nada difícil de se chegar, de que nossa cidade chegou ao ponto que chegou por causa do maior e mais profundo problema brasileiro: a corrupção. E esta se sente muito confortável vagando entre a politicagem brasileira, devido muito, ao que o sensacional Nelson Rodrigues chamou de "complexo de vira-lata". Os brasileiros são sem dúvida nenhuma os maiores representantes da espécie vira-lata. Uma raça tão misturada que se faz pura em sua miscigenação. E isso é fantástico, creio que isso nos faz mais fortes. Só não por um motivo: o complexo de vira-latas. Político pode roubar, pintar e bordar que ninguém faz nada. Ninguém reclama. Ninguém sabe nem que tem esse direito. Fica só rondando a mesa, esperando que joguem migalhas e somos agradecidos por isso. Político que faz rua, faz praça, parece que está fazendo favor e não obrigação. Político que às vezes pensa nos outros e divide seu lucro com o interesse público é santo. Vai pro céu quando morrer. E assim, virando latas, chutando as tampinhas do descaso, vamos eternizando essa situação, vendo nossa cidade definhar e os espaços públicos se tornando qualquer coisa que ainda não consigo definir... Mas até quando?

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Rindo sozinho...


O que significa? Uma felicidade aflorante, que brota do mais íntimo? Uma ponta de insanidade que surge exibindo as chagas da ansiedade? Vai saber! Apenas uma coisa é certa: nunca saberemos o que se passa pela cabeça de alguém que ri sozinho. É uma leve manifestação daquilo que de mais íntimo, mais individual, ímpar e singular o ser humano carrega: seu pensamento. E este nunca será dado ao receptor da mensagem em íntegra, em sua mais profunda veracidade. Pobre do sujeito que ao pelejar versejos para sua musa dourada, nota aquele leve movimento a esticar-lhe uma das pontas dos lábios. Nunca saberá o que se passou e a dúvida carcomer-lhe-á eternamente até sua última ligação neural. Rir sozinho é dar mostras de liberdade. É não ligar para o que pensam os outros, porque uma coisa é certa: os outros irão pensar! O que? Não importa! É capaz até do movimento difundir-se, e tal qual o bocejo tornar-se contagioso e todos saiam rindo sozinhos por aí. Minha namorada certo dia surpreendeu-me e irrompeu-se de ciúmes pois me notou rindo sozinho depois de ver passar uma moça bonita. Garanti que nem a notei. Apenas tinha me lembrado de uma piada. O ciúme não veio por eu ter olhado ou não para a garota, isso é o que de menos importa. Veio da incerteza provocadora do ato. Era um momento apenas meu e que nem ela e nem mais ninguém poderiam se apossar. Pois rir sozinho é provocante. Desperta os sentimentos. Imaginem quantas guerras não começaram pois na hora H, na reunião dos líderes mundiais, aquele presidente riu sozinho! Quantos vilões do cinema se tornam muito mais enigmáticos porque riem de nada! Simplesmente riem, sem o entendimento dos outros. Aquele que ri sozinho gera a dúvida. Todos pensarão que perderam alguma coisa, que algo passou despercebido e começarão a apreciar o risonho por sua perspicácia e lhe invejarão sua alegria gratuita. O culpado é aquele que ri sozinho. O artista, o espectador ou a obra: quem ri sozinho? Alguém há de ter pintado essa Monalisa nas relações pessoais.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Fique calmo! Eu matei o Tempo!

És um Senhor tão bonito? Um dos Deuses mais lindos? Pois saibam que hoje eu saí para matá-lo e tenho impressão que o matei. Um dos grandes males da tecnologia, da telefonia celular, do orkut, do facebook, é a de retirar das pessoas a possibilidade de estar só consigo mesmas. Alguém lembra de como era a vida antes do celular? Existia? Você poderia andar despreocupado pela rua, crente que poderia chegar às quatro horas ao seu compromisso, chegar às quatro e quinze e estar tudo numa boa. O celular aboliu a calma dos encontros. Às 3:50 já estão lhe ligando, cobrando a presença. Às 4:15 já foram umas 20 ligações e todos já estão a odiar-lhe pela demora. Você já não pode perder-se pela cidade, parar em uma sorveteria e saborear um sorvete de doce de leite. Alguém vai lhe ligar e reclamar porque você parou. Há o constante monitoramento celular. Não estou falando dos pais, da namorada, do chefe. Estou falando de todos. Qualquer pessoa pode saber onde você está a qualquer momento. 
Eu sou um cara tranquilão. Não gosto de correria, de pressão. Sei que na minha profissão os trabalhos normalmente são feitos nesta base. Noites viradas, litros de café, os olhos sempre saltando da face. Mas de uns tempos para cá aprendi a matar o Tempo. Quem nunca se atrasou e, ao contrário do que poderia parecer, o atraso foi benéfico? Não estou fazendo aqui um ode à irresponsabilidade e à carice-de-pau, mas estou clamando pela qualidade de vida. As pessoas têm que começar a aprender a se respeitar em detrimento do telefone, dos emails. As cobranças chegam mas cada um deve aprender a lidar com seus tempos, com seus prazos, os seus modos de fazer as coisas. A industrialização trouxe esse mal da velocidade e da padronização. Nivelou todos os profissionais em suas especializações e premia os eficientes. É a pura mecanização do ser-humano. Já imaginou um arquiteto ser melhor do que outro simplesmente porque sempre entrega seus projetos no prazo? E esse seria o maior diferencial entre os arquitetos! Escutem aqui baixinho, vou falar no pé do ouvido: nenhum entrega no prazo! Tudo bem, arquitetura é uma outra questão, exige criação, inspiração etc etc. Mas tem uma coisa que é comum a todo e qualquer ofício: o próprio homem. Cada pessoa tem seu tempo até para arrochar um parafuso. Cada um tem seu trejeito para escovar os dentes, rodar a maçaneta. Então como não dizer que cada profissional tem sua peculiaridade? E isso é tão grave que muitos de nós perdemos o gosto. Nem sabemos o que queremos, ficamos com o que tiver à mão. Isso pasteuriza a cultura. Somos o ser-humano padrão, soltos às garras do Mercado. Quem ainda vai ao alfaiate se é muito mais rápido ir ao shopping? Mas no shopping, ninguém tem liberdade, ninguém cria, ninguém inventa, ninguém se inventa. Somos aquilo que está programado. E rápido! E o que é que o pobre coitado do celular e do facebook tem a ver com isso? Nada. E tudo. São maravilhas da modernidade. É realmente quase que impossível viver hoje em dia sem um aparelho de celular. E com dois, três e até quatro chips! Porém, com eles, a pressão triplica. Com eles, temos pressa! O que acontece é que não somos mais nós mesmos que fazemos nosso tempo. Viramos reféns do celular, da internet. E quanto mais chegam ligações: “você ainda não chegou?”, “está trazendo o trabalho?”, “venha logo!”, com aquele “trim” “trim” constante, mais nós nos estressamos. Quem nunca perdeu uma música favorita porque a colocou como toque do celular? E assim o tempo vai se esvaindo sem que a gente perceba e o Tempo vai nos dominando e consumindo sem que possamos reagir. 
E se de repente todos reagíssemos e ao invés de se acabar para viver, vivêssemos até se acabar? Se domássemos nosso telefone e nossa internet e passássemos uma hora do dia conhecendo nossa cidade? O ladrão? Ele existe porque ninguém está prestando atenção a ele. É um ser marginal. A gente nem o nota em nosso mundo instantâneo. Vamos devagarinho, à pé. Tendo o cuidado de ver tudo aquilo que a gente perdeu porque não teve tempo, no automóvel. E se nos encontrássemos casualmente nalguma calçada e ali ficássemos tomando uma cerveja, até matar o Tempo (de novo)?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Janelas (uma proposta? um desabafo?)

A cidade se trancafia dentro de si mesma. O externo e o interno são manifestações tão antônimas que chegam a se confundir no limiar das tensões, tomando cada uma o papel da outra no dia-a-dia urbano. A liberdade não mais tem a ver com o ir e vir, com a procura do inesperado, com o conhecer e o fazer-se conhecido. A liberdade agora é fruto da prisão. As pessoas nas cidades prendem-se, trancam-se em busca da liberdade, da fuga do medo, para poderem estar de forma calma e tranquila consigo mesmas. É a busca da capela-útero de João Cabral. As portas não são mais de abrir, mas de fechar. Elas fecham para o aberto. E assim, fechando-se em torno de si mesmas, em suas casas, seus terrenos, propriedades, a cidade vai se esmaecendo de vida. As células do tecido orgânico vão se isolando e perdendo suas relações. O organismo vai perdendo vida. Mas o que acarreta isso? Será apenas o medo da violência? Os muros altos, as cercas elétricas! Existirá coisa mais aterradora do que isolar-se atrás de um conjunto de fios elétricos por medo de outros seres-humanos? E que seres-humanos são esses que irão debater-se contra essa fiação? Que monstro alimentador dessa desfiguração urbana está tramando contra nosso futuro? A própria cidade, num ciclo vicioso, trama contra si mesma. Ela é uma péssima anfitriã. As ruas das grandes cidades são pouquíssimo hospitaleiras. Não há beleza, gentileza, delicadeza em nossas ruas. Olhem para os postes de iluminação pública! Eles trazem em si a mágica da luz! A luz que rasga o breu da noite e disponibiliza a possibilidade da alegria e da convivência mesmo sem a luz do sol. Como cantaram Chico Anísyo e Arnoud Rodrigues (que Deus o tenha!), numa música que para mim é belíssima que diz: “Nosso poste da esquina, da rua Jorge Lima, onde a turma se formou, onde a turma se encontrou e a vida separou!”. Mas olhem para os postes de iluminação pública! São monstros de concreto! Onde está a delicadeza de quem carrega a luz? Fortaleza já foi possuidora dos postes mais charmosos do Brasil, nos tempos da luz à gás! As calçadas? Como falar das calçadas se elas nem sequer existem? O que o trânsito faz com as pessoas é assustador. Educados perdem a educação, gentis tornam-se ranzinzas. O stress do trânsito é de fazer qualquer um precisar sair da rua. A casa acalma. Tranquiliza. Esvazia-se a cabeça dos tantos barulhos desnecessários de lá de fora. A paz chega quando se está só, em silêncio, trancado. Os ruídos do mundo externo são tão altos, tão improdutivos, tão alucinantes que nos calam. E não são apenas ruídos sonoros. A briga entre as placas de propagandas, as luzes das lojas, os sinais de trânsito, os edifícios modernos, os fios de eletricidade são tão aterradoras quanto os freios dos ônibus, a buzina do motorista enfadado, o som do carro do rapaz playboy... E tudo isso nos cala. Chegamos em casa sem histórias para contar. Até porque o tempo não permite. Não temos tempo de olhar o que acontece na rua. 60km/h é muito devagar para a nossa pressa, mas sem dúvida é demasiado rápido para se viver o momento. Aquele pobrezinho doente, sem pernas que pede esmola na rua? Aquela criança magrela, com um bucho enorme e duro? Não merecem atenção, são vagabundos, espertalhões, que querem ganhar dinheiro fácil. E tudo isso passa numa velocidade tão grande que a gente nem nota. Temos segundos de revolta, de ética, de humanidade mas que passam voando por nossa cabeça, pois não temos tempo para maiores reflexões. E mesmo as reflexões por vezes param em certo momento e a luta contra as injustiças, as diferenças, o machismo, o preconceito tornam-se mais injustas, mais diferenciadoras, machistas, preconceituosas e massacrantes.
O que fazer diante disto? Não sei. Sei que viver em uma saudade, em uma melancolia por um tempo que eu nem cheguei a viver não adianta. Não sou do interior. Meus pais são. Sei de muita gente que ainda tem o costume de sentar na calçada no fim do dia. Colocar suas cadeiras de balanço lá fora e ir ver o movimento. De vez em quando passa um carro. O carro. Esse que veio diminuir as distâncias parece que só as aumenta. Tantas e tantas vezes é tão mais complicado ir daqui pra lá de carro. E demorado. E estressante. Passam-se horas em um congestionamento. Sem falar na dor no joelho esquerdo que pisa na embreagem e nas costas doídas com tanta tensão. 
As casas mais antigas, do Centro, possuem algo interessante que as casas e os condomínios atuais não possuem, que é a porta e a janela que dão para a rua. Ou seja, a falta do muro. A relação interior x exterior era bem mais interessante quando se podia abrir a janela e apreciar a rua. Não apenas apreciar a rua, mas oferecer um bom dia a quem passa. Como no poema de Cecília Meireles, As meninas:
Arabela
abria a janela.
Carolina
abria a cortina.
E Maria
olhava e sorria:
“Bom dia!”
Arabela
foi sempre a mais bela.
Carolina
a mais sábia menina.
E Maria
apenas sorria:
“Bom dia!”
Pensaremos em cada menina
que vivia naquela janela;
uma que se chamava Arabela,
outra que se chamou Carolina.
Mas a nossa profunda saudade
é Maria, Maria, Maria,
que dizia com voz de amizade:
“Bom dia!”
Que beleza! “Cada menina que vivia naquela janela”! A janela são os olhos da casa. E o que podemos ver se entre a janela e a rua tem um muro? Onde fica o bom-dia? Aquela menina bonita debruçada no peitoril!? E que belo nome! Peitoril! Tudo faz mais sentido quando se humaniza o cotidiano, quando o ser-humano é o padrão da vida, e não a máquina, o carro. 
E se por um certo momento abríssemos as janelas que exalam a paz do interior para o mundo exterior? Trouxéssemos a gentileza que há por dentro para fora, para a rua? E se esse movimento fosse do mundo sufocante e fechado aberto de fora, para o mundo aberto de paz e tranquilo fechado de dentro? Se puséssemos janelas cheias de bons-dias nos muros dos condomínios e se nos debruçássemos sobre elas? Haveria alguma compreensão? E, como cantou Chico Buarque, o mundo amanheceria em paz?

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Catavento, camisetas especiais!: Novas estampas!

Catavento, camisetas especiais!: Novas estampas!: "Tive ótimas idéias para o carnaval com algumas dessas novas estampas. Um exemplo? Com alguns adereços dá para compor uma boa fantasia de super heroi! Acho que vou usar a do The Flash e sair correndo por aí, sem parar! rs"


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