terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Carta a Papai Noel

Sempre que chega essa época de natal, lembro desse poema de Chico Pedrosa. Ele é um poeta popular formidável, que recita suas poesias como ninguém. Esse poema é uma beleza e já estou disposto a decorá-lo para recitar nas próximas boas festas. Leiam e escutem, que maravilha!


Carta a Papai Noé
(Chico Pedrosa)

Seu moço, eu fui um garoto
infeliz na minha infança.
Vim saber que fui criança
já pela boca dos ôtos.
Só brinquei com os gafanhoto
que achava nos tabuleiro,
debaixo do juazeiro,
com minhas vaca de osso;
essas porquera, seu moço,
que se arruma sem dinheiro.

Quando eu via um gurizim
brincando de velocípede,
de caminhão, de jipe
de bola, revolve, carrim...
Sentia dentro de mim
um desgosto que dava medo.
Ficava chupando dedo
e chorava o resto do dia,
só pruque eu não pudia
pegar naqueles brinquedo.

Perguntei certa vez
a uns filhos dum dotô:
- diga fazendo favô
quem dá isso pra vocês!
Respondeu logo os três:
-Isso aqui é uns presente
que a gente é inucente
vai drumi e às vez nem nota,
aí Papai Noé vem e bota
perto da cama da gente.

Fiquei naquilo pensando
inté o natal chegar.
E na noite de natal
fui drumi me alembrando.
Acordei e fiquei caçando
por onde tava deitado:
Seu moço fui enganado!
Pois de presente só tinha,
de mijo uma pocinha,
que eu mermo tinha mijado!

Saí com a bixiga preta
cassando os amigos meu.
Quando eles mostraram a eu
carro, caminhão, carreta,
bola, revórve, corneta,
trem elétrico, inté
boneco, máquina de pé,
eu não brinquei, só fiz vê,
resorvi aí escrever
uma carta a Papai Noé:

Papai Noé é pecado
os otro lhe maltratar,
mas eu vou lhe reclamar
uns troço que tá errado:
aos filho dos deputado
o sinhô dá tanto carrim,
mas o sinhô é muito ruim
que lá em casa num vai,
por certo não é meu pai,
que não se lembra de mim!

Já tô certo que você
só balança o povo seu,
e um pobre cuma eu
o sinhô vê e faz que num vê.
Se o sinhô vê,
porque lá em casa num vem?
o rancho que agente tem
é pequeno mas lhe cabe,
será que o sinhô num sabe
que pobre é gente também?...

Você de roupa encarnada
colorida e bonitinha
nunca reparou que a minha
está toda remendada?
seja mais meu camarada
preu num lhe chamar de ruim!
Nesse natá faça assim:
dê menos ao "fio" do rico
de cada um tire um tico, 
e traga um presente pra mim!

Meu endereço eu vou lhe dar:
a casa que eu moro nela
fica naquela favela
que o sinhô nunca foi lá!
Mas quando o sinhô chegar 
e avistar um paioça
coberta com lona grossa
e uma porta de flandre
com 2 buracão bem grande:
pode bater que é a nossa!

Um comentário:

tiberio gadelha disse...

a parte do presente que encontrou foi a propria poça de mijo foi foda, hehe

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