quinta-feira, 30 de setembro de 2010

política Maia


Não entendo como pode o Serra estar onde está e o Plínio estar onde está nas pesquisas. Me parece estar trocado. Quando olho para a cara do Serra, lembro-me da máxima dita pelo grande e genial Tim Maia quando pensou em sair candidato a vereador no Rio de Janeiro:


"O Brasil é o único país em que além de puta gozar, cafetão tem ciúme, traficante é viciado e pobre é de direita!".
(Tim Maia)



quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Mussum, o original

Para tentar dar uma mãozinha em meus leitores "mudos" (parece que só a Caroline tem coragem de se arriscar em um Top5, que apesar de estar mais pra Top10, tá muito bem escolhido!) vou colocar aqui um vídeo que recebi de um camarada meu, camarada desses pra qualquer hora, pra qualquer parada, o Xico. Pode ser que colocando esse vídeo, ele próprio sugira seu Top5... Vamo lá galera, a gente pode inclusive combinar uma feijoada só pra inaugurar o cd, hein!? Que beleza!?
Falando um pouquinho do vídeo, é um desses programas Ensaio, da Tv Cultura. Só que esse é de 72. Antigão, preto e branco. Parece até que era um tempo bom. O Mussum fala nas travas da chuteira do Pelé, numa época que o Pelé ainda dava o ar de sua graça nos campos desse país. É um sambão sensacional, feito pelos originais do samba e que é a cara da feijoada. Podem provar! Bom apetite!


Ps.: quando eu cheguei lá pela Espanha e que não tinha onde ficar, não tinha onde morar, quem me salvou foi Jesus. Calma! Não é nada disso! O sujeito que topou alugar um apartamento pra mim - estudante, estrangeiro e só por 6 meses -, se chamava Jesus. O apartamento era ótimo, bem localizadíssimo, e o melhor: o Jesus também era dono de um bar! O bar se chamava Zócalo e de certa feita ele me convidou para montarmos uma festa brasileira. Ótimo, até que ele disse que eu ia fazer as caipirinhas. Cheguei lá, ele estava com uma garrafa de uma cachaça mineira estranhíssima, sabor rapadura e um litro de Ypióca empalhada. Já tinham meses que eu não colocava uma gota de cachaça na boca (quando eu entrei na faculdade de arquitetura me disseram que doença de arquiteto só são duas: lordose e cirrose...) e eu adorei ver aquela musa empalhada - quem lê isso pensa que eu sou um bebedor inveterado, a bem dizer, um alcólatra... mas já não mais! Foram arroubos da juventude! E mandou eu escolher qual cachaça usaríamos nas caipirinhas. Fiquei com a Ypióca e ainda ganhei um litro de presente. Enfim, tudo isso para dizer que corri pra tentar descobrir uma boa receita de caipirinha e consegui. Ficaram excelentes e agora repasso pra vocês (tudo por um bom Top5 de músicas pra se ouvir comendo uma feijoada!)

1 limão
1 colher (de sopa) de suco de limão
4 colheres de açúcar
1 pitada de sal
e 2 doses de cachaça

Olhem só como é legal. Cortem o limão em cubos pequenos, da espessura de um dedo. Daí, mistura com o suco de limão e machuca tudo, pode ser com um socador. Depois coloca o açúcar e a pitada de sal, mistura e deixa descansando por uns 10 minutos. Depois divide isso em dois copos, coloca a dose de cachaça, um gelinho, enfeita o copo com uma fatia de limão e é correr pro abraço! Bastante bom!
abraços!

terça-feira, 28 de setembro de 2010

vamos harmonizar comidas x músicas?

Primeiro eu queria dizer que confirmo a teoria da Isabelle. Realmente leitores de blogs gostam de comida. Todas as minhas postagens sobre comidas tiveram muitas visualizações - bem mais do que a grande maioria. (Eu também devo dizer que fiz um brownie para colocar fotos aqui, mas ele acabou antes mesmo de eu conseguir tirar uma mísera fotografia...). Porém surpreendeu-me a quantidade de visualizações do post Mary and Max. Não sei se foi pela animação ou pelo Top5, de qualquer modo, isso me deu uma idéia que eu queria desenvolver com os leitores desse blog, mas pra isso eu vou precisar de comentários, se não quiserem colocar suas caras e seus nomes, eu liberei comentários anônimos viu! Então vamos lá, a idéia é a seguinte: hoje aqui em casa o prato do almoço foi feijoada. Só o cheiro da feijoada já lembra samba e cerveja gelada. Então é isso, do mesmo modo que os enólogos e os chefs gastronômicos harmonizam vinhos e comidas, eu quero propor aos musicólogos e/ou puramente apreciadores de músicas e comidas que passeiam virtualmente por essas bandas, a harmonização de músicas e comidas. Vamos fazer isso através de Top5. Eu vou procurar as 20 mais votadas, montar um cd, criar uma capa Top20 do Blog Arquitetura Interior e disponibilizar aqui mesmo para download. Vamos começar pela feijoada. Qual sua lista Top5 de músicas para se ouvir comendo feijoada?
Vou começar...

1. Feijoada completa (Chico Buarque) - essa é meio óbvia mas tem que ter né...
2. O poste da esquina da rua Jorge Lima (do disco Azambuja & Cia... não sei quem são os autores, acho que o Chico Anysio e o Arnould Rodrigues com certeza estão metidos nisso)
3. Aquele abraço (cantado pelo Tim Maia)
4. Morena de Angola (aquela versão que o Chico canta junto com a Clara Nunes)
5. Prece a Xangô (afinal, é sua comida favorita... De Roberto Ribeiro, com Clara Nunes)

Acho que é isso... ainda tô propenso a mudar coisa ou outra. Se eu me lembrar melhor depois eu mudo!
Vamos lá turma, força!
Abraços!

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Mary and Max

Minha irmã me contou que queria ver um filme infantil, pra se distrair um pouco. Alugou então uma animação, mas parece que errou na classificação etária do filme: alugou Mary and Max. É uma animação dessas stop motion (é isso mesmo né?), feitas de massinha. É lindíssimo. Só não é nem um pouco infantil. Creio que não funcionou para o que ela queria, pura distração. Mas eu fui atrás do filme. É todo fantástico. As expressões faciais dos personagens, a narração, as idéias maravilhosas vindas de um doido e de uma menininha solitária de oito anos de idade. No começo do filme diz que é baseado em uma história real. O que é mesmo é uma história ao mesmo tempo belíssima e muito triste.
Também é muito bom o jogo de cores. O mundo da menininha, a Mary, na Austrália é em tons de sépia, já o mundo do Max, em Nova York, em tons de cinza.
Já é um dos meus filmes de animação preferidos. Recomendo a todos. Corram! Aluguem! Baixem da internet! Assistam a esse filme! É muito bom! Vou deixar de aperitivo o treiler aqui.
Vivo falando em Top5, vou arriscar aqui um Top5 dos melhores longas de animação, outro dia tento um dos curtas... vejam se concordam:

1. Up
2. As bicicletas de Belleville
3. Mary and Max
4. A viagem de Chihiro
5. Deu a louca na chapeuzinho

Quem muda essa lista? Vamos fazer uma votação? Uma enquete?
Aí vai o treiler do Mary and Max:

domingo, 26 de setembro de 2010

para peidar e sapatear no carnaval!

Venho desde já falando do carnaval, porque temos planos para o próximo. Conversando com meus camaradas lá do Rio, o meu amigo Burger (Burgos!) e o genial Gabriel, ambos sujeitos sensacionais, engraçadíssimos e pirados, combinamos de criar um bloco tanto para o pré-carnaval aqui em Fortaleza, quanto para o carnaval mesmo, lá no Rio de Janeiro. A uma altura dessas, eles nem devem se lembrar disso, mas como eu disse que ia fazer o hino do bloco, estou lembrado de tudo!
Em primeiro lugar, deve ser visto o motivo, o tema principal. Partimos de um livro muito bom, chamado "Café-da-manhã dos campeões", do escritor norte-americano Kurt Vonnegut. O livro é fantástico, escrito para algum extra-terrestre que venha conhecer a Terra. Cheio de desenhos explicativos e muito engraçados, define uma visão interessantíssima do nosso planeta. Enfim, não vou aqui falar do livro nem tecer uma crítica literária, vou apenas apresentar um trecho em que um escritor no livro, chamado Kilgore Trout, que escreve textos de terceira categoria, que só são publicados em revistas pornográficas, escreve uma ficção científica, em que um extra-terrestre chamado Zog, vem à Terra trazendo informações sobre a cura do câncer e a paz mundial. Acontece que no planeta do Zog, as pessoas se comunicam apenas através de peidos e sapateados. Um certo dia ele pousa sua nave espacial em Connecticut e logo avista uma casa pegando fogo. Corre pra dentro da casa para avisar aos donos que estão correndo perigo. Lá, começa a peidar e sapatear e então, o dono da casa mata o Zog acertando sua cabeça com um taco de golf.
Depois disso, resolvemos brincar nosso carnaval peidando e sapateando, que nem o Zog. Talvez não alcancemos a cura do câncer e nem a paz mundial, mas só ter a idéia já nos rendeu muitas gargalhadas.
O bloco se chamará, pois, "Peidando e Sapateando". Imaginem a divisão dos naipes da bateria: ovos pra esquerda! Feijão na direita! Repolho no fundo! Breque! Entram os sapateadores. Dá até pra ver como se fosse um filme daqueles musicais de Hollywood. Uma câmera aérea dando um vôo rasante sobre a multidão, sapateadores risonhos, dançando, dando voltas nos postes da rua, segurando-os com uma mão. De repente entra o naipe do ovo, depois o batidão grave, a turma do repolho. Depois, como que um solo de tamborins, a turma do feijão...
Vou parar de viajar nessa história. Vou mostrar aqui minha primeira idéia para o hino. Aí está.

Ps.: enquanto eu escrevia isso, assistia na tv ao debate entre os candidatos à presidência, na record. A cada vez eu gosto mais do Plínio. Ele peidou e sapateou nesse debate.


Peidando e Sapateando
(João Lucas)

Pra você que veio de fora
Veio montado num cometa
Resfresque seu Vonegut
Me acompanhe e não se perca
Reponha carga nas pilhas
Ponha sebo nas virilhas
E conheça o meu planeta

Peidando e sapateando!
Peidando e sapateando!
O meu mundo é uma beleza
Quando peido e sapateio!

Resplandece a alegria
Tem jazidas de amor
A minha gente sofrida
Despediu-se da dor
E pôde feliz cantar
Quando viu todo esse povo
Peidar e Sapatear!

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Errei!!!

Galera! Foi mal! Errei! hahahahaha
Eu disse que era rídiculo, a receita é tão fácil que eu nunca consigo decorar. Fui fazer o brownie pra tirar umas fotos e colocar aqui e vi que a receita que postei tava errada! Não são 5 xícaras de farinha e 5 de açúcar! São só 3 de cada! E não são só 3 ovos, são 5! Vou ajeitar na postagem de ontem hein! Espero que alguém que tenha tentado fazer tenha sido esperto e visto que tava tudo trocado. Amanhã coloco as fotos e posto coisa melhor! A cerveja que tomei enquanto preparava o borniew já não me deixa escrever mais...
valeu!
desculpem-me
e abraços!

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

para conquistar pelo estômago

Testando a teoria da Isabelle, de que leitores de blog gostam mesmo é de comida (segundo ela, essa teoria é "batata, batatíssima" e, desde que começou a falar de comida, suas visualizações dispararam!), vou postar aqui uma receita. É ótima para a sexta-feira: fácil, rápida, gorda e gostosa. Ainda mais: vou passar para vocês uma receita de família. Aprendi com minha prima, Luciana.  O mais vergonhoso é que apesar de tão fácil - hoje já sei a receita de cor -, para eu aprender tive que telefonar para ela várias vezes para relembrar. É um Brownie, que alguns chamam de liquidificador, mas que eu nunca consegui fazer em um. Muito simples, vamos aos ingredientes:

3 xícaras de farinha de trigo
3 xícaras de açúcar
5 ovos
1 lata pequena de Nescau (hoje sei que bom mesmo é usar chocolate em pó e não achocolatado como o Nescau, mas como a medida da receita que eu aprendi é uma lata pequena de Nescau e eu não faço idéia de quantos gramas tem uma, vou colocar assim mesmo...)
e pra terminar, 1 pote pequeno de margarina sem sal. Aaah! Nada de usar a margarina gelada em bolo pq fica tudo solado!

Modo de fazer: mistura tudo até ficar uma coisa só, põe em uma forma untada e forno! Claro, pré-aquecer o forno. Segredo: não deixem assar muito, esse brownie fica bom mesmo se ficar assado por fora e por dentro ficar ainda úmido. Já fiz intercalando uma camada da massa, um vidro de Nutella e outra camada de massa. Com doce de leite também deve ficar uma maravilha! Comê-lo com sorvete então, é pra matar!
Assim termino meu teste, vamos ver se a Isabelle tem mesmo razão...
Bom final de semana pra todos, com umas gordurinhas a mais do Brownie!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

teketon

Quando eu morei na Espanha, em 2007, fiz um semestre de arquitetura por lá, em um convênio entre a Universidad de Valladolid e a UFC. Durante esse período cursei a disciplina Proyecto del Paisaje II, com o professor Darío, a quem quero tecer aqui rasgados elogios. Foi um dos melhores professores que já tive. Além dessa disciplina cursei com ele Arte Contemporáneo e também foi muito interessante. Ele tem um jeitão meio maluco de ser, desses caras que estudaram muito e um parafuso afrouxou. Tem no computador tantos arquivos relacionados com arte quantos você puder imaginar, logo suas aulas são bastante recheadas de exemplos, entre gravuras, quadros, filmes, músicas, raridades e vai além! Pra lhes dar uma idéia, ele fez a mãe dele costurar uma colcha de cama imitando a colcha de cama criada pela Sonia Delaunay, aquela do Simultaneísmo, esposa do Roberto Delaunay, ele a levou na aula para que a víssemos! Pois bem, nas aulas de jardín, ele passou três projetos diferentes pra gente, em três escalas diferentes: um jardim residencial, outro maior, urbano, do tamanho de uma quadra e o último seria um bosque, que acabamos fazendo outra coisa. Porém, o mais interessante é que cada um teria uma peculiaridade: o primeiro teria de ser inspirado em uma música, instrumental, e de autores contemporâneos. Deveria ser apresentado em vídeo que deveria falar por si, nós mesmos não poderíamos apresentar nada. O segundo uma maquete, um jardim de esculturas, tínhamos que escolher 5 esculturas entre uma lista de autores apresentada pelo próprio professor. O tema do terceiro seria um filme. 
Estou postando isso porque mexendo nos meus arquivos descobri o vídeo do primeiro trabalho. Vou colocá-lo aqui. Fiz o trabalho junto com a Samara, que também viajou daqui, fomos colegas aqui e lá e também dividimos morada por lá. Escolhemos uma música sensacional, do Steve Coleman, chamada "The Mantra". Cada compasso da música tem 9 tempos, a cada ciclo de teketons vocês podem contar 9 pulsos! Conheci essa música também com o Heriberto Porto, aquele que me gritou a campanha das árvores frutíferas (acho que um dia terei que fazer uma postagem falando só sobre ele!). Vou colocar a música também. O projeto ficou dando a impressão que está faltando alguma coisa porque nós tínhamos entendido que deveria durar por volta de 1 minuto. Demos um jeito de acabar logo... Podem criticar à vontade!



terça-feira, 21 de setembro de 2010

tecendo a manhã

Continuando com as boas animações que a gente encontra no You Tube, um dos poemas que eu mais gosto, inclusive colocando-o entre meus Top5, chama-se "Tecendo a manhã", de João Cabral de Melo Neto. O poema é lindíssimo e a animação não ficou atrás. Não quero falar mais nada nem sobre um nem sobre o outro. Tudo o mais que eu disser poderá soar piegas, redundante etc etc etc... Melhor mostrar o vídeo, sair de perto e deixar que vocês se deliciem e me ajudem a falar um pouco mais...

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

aquarela

Para quem gosta de animação, essa é uma muito bem feita, bastante criativa. Fugiu do lugar-comum de colocar imagens literais do que diz a música, pelo contrário, deu margem para que possamos imaginar feito um menino. Engrandesceu a música, que já é fantástica. Não carece postar a letra. Aquarela de Toquinho, Fabrizio, Morra e Vinicius de Moraes é belíssima, de início parece ter sido feita só para crianças, cheia de brincadeiras infantis, porém, deslancha para uma reflexão sobre a vida e o futuro que nos oferece uma verdadeira tristurinha boa... Uma melancolia que aperta o peito, as saudades, os amigos, a infância... Quero ver escorrer uma lágrima no canto do olho de cada um!


domingo, 19 de setembro de 2010

campanhas (2)



Apesar do pífio sucesso da minha primeira campanha, aquela das árvores frutíferas, não pensem que eu desisti! Após um domingo nauseabundo, desses que após a cerveja mal engolida do sábado, a gente passa o dia inteiro se encostando no sofá, se arrastando pra cama, com o cabeção parecendo estar com o dobro do tamanho, lembrei-me, depois que a minha namorada foi pra sua casa, - e é claro que eu só me lembrei por sua causa, afinal, ela é, para meu orgulho e minhas dores, uma dessas descendentes de Iracema que mantém a arte -, de uma pequena crônica do velho e bom Xico Sá. E ela é o tema da minha campanha. Não é necessário eu explicar mais nada, apenas colocá-la aqui. Essa creio que vai decolar! Abraços e até segunda-feira!

DA ARTE DE ESPREMER CRAVOS E ESPINHAS
(Xico Sá)

Aqui nos pegamos, mascando o chiclete Ploc da nostalgia precoce, para lembrar os tempos em que as mulheres espremiam nossas espinhas e tiravam todos os cravos do nariz e arredores _inclusive aqueles na ponta da napa, motivo suficiente para gritaria e espirros tantos da nossa parte.

Reclamávamos nesse momento, éramos chamados de frouxos. Inevitáveis comparações com a dor do parto e outras dores femininas ecoavam no ar nessa hora solene. E quando elas escolhiam justo a hora do futebol, o ataque do time do coração, vilge, nossa! 
Hoje, quando estão praticamente extintas as mulheres da brigada contra cravos e espinhas (suerte que a cria da minha costela mantém-se na resistência gaulesa e aproveita a boa luz das manhãs dominicais) , sentimos a perda, uma vez que nunca dominamos muito bem essa arte. Nem mesmo na adolescência, quando nos transformamos em verdadeiros e monstruosos Mr. Hydes _culpa, óbvio, do glorioso vício solitário, que além das espinhas ainda nos pregava pêlos na palma da mão, de modo a nos devolver ao darwinianíssimo macaqueamento do macho. 

Como não acreditamos nos milagrosos creminhos usados pelos metrossexuais _esse novo tipo de homem moderno gerado da costela de David Beckhan_ preferimos incentivar o resgate da prática feminina de tirar cravos e espinhas, essa bela e útil mania praticamente extinta nos dias que correm. 
Vez por outra ainda damos a sorte de avistar, em alguma parada de ônibus, uma voluntariosa senhora ou senhorita a espremer o rosto de um camarada. Sempre uma bela cena produzida pelos suburbanos corações.

Sim, não tem a menor graça, nesse mundo tão imbecilmente profissionalizado, a limpeza de pele dos salões de beleza. Seu rosto ali entregue a amistosas funcionárias sem nenhuma intimidade, mulheres que nunca ouviram os nossos roncos de noite na cama. É o tipo de serviço que exige histórico de intimidades. Tal arte carece de pelo menos um mês de namoro ou acasalamento. Não é tarefa para qualquer uma. É tão delicado quanto tirar a roupa pela primeira vez na frente de outrem - e, pensando bem, uma reveladora prova de devoção. 
A menos que seja uma perversa incatalogável, uma gazela não escarafuncha suas crateras à toa. Quando ela posiciona aqueles dois indicadores sobre a sua bíblica face, parece aceitar a convivência harmoniosa até com as nossas mais indignas impurezas. É provação, é decência feminina no último. E quando ela mostra o resultado na ponta da unha, aquela linda revoluçaozinha dos cravos domingueiros contra o tédio da existência!?


retirado de o carapuceiro

sábado, 18 de setembro de 2010

Sorvete de palavras

Ontem tomei
um pote de dois litros
de sorvete de palavras.
Estavam geladas,
úmidas, doces.
Acalentei-as com
meu esôfago de gigante
e atirei-as aos pássaros,
como pedrinhas
na minha baladeira.
Algumas derreteram-se
pelos desertos das descrenças
e dos supérfluos,
mas, afinal, quem deseja
restos de palavras
deglutidas e cuspidas
sem uma gota
de cobertura de morango?
Essa poesia com certeza
teria um outro final,
mas protelei demais
com os meus sonhos
e já não consigo lembrar-me
de como era.
Foi assim que o sorvete inflamou
uma multidão de formiguinhas -
e a minha garganta.

(João Lucas)

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

reinventando a viola, o retorno!

Pessoal, acho que enfim tirei as dúvidas! Parece que é mesmo um homem, e que se chama Ronnie e que ele é de Botsuana! Tentei pesquisar na internet para descobrir alguma coisa e só descobri mais alguns vídeos no youtube, na verdade, vários vídeos, e os postarei aqui. Encontrei inclusive esse mesmo vídeo numa qualidade bem melhor. Ah, e tem também um vídeo em que quem toca é aquele camarada de boné que fica ali atrás só tomando uma cervejinha. Então, com vocês, Ronnie, de Botsuana!






e o camarada do boné...



E bom final de semana pra todo mundo!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

reinventando a viola

Quem mais me manda emails interessantes (o que inclui de tudo, de pornografias até desenhos animados) é, por incrível que pareça, meu pai. Se bem que de uns tempos pra cá ele resolveu ficar com vergonha de enviar pornografias... E hoje, ele me enviou um email sensacional. O título era apenas "reinventando a viola", e, à primeira vista, deixei o email lá esperando um pouco, em banho-maria, enquanto eu tomasse disposição e paciência para vê-lo. Foi uma das mais gratas surpresas que tive. Eu nunca tinha visto nada parecido. Realmente é um reinventar da viola. O pior é que não tinha nada escrito no corpo do email, por isso não sei quem é que está tocando, não sei quem filmou, não sei sequer onde é que se passa essa cena. É incrível a cara de nada que esse sujeito faz enquanto toca, ou sei lá... acaricia, batuca, benze... Seria uma apresentação que eu realmente gostaria de ver, e isso porque ando meio impaciente com o que tenho visto por aí sendo produzido por nossas melhores mentes pensantes. Não pensem que eu esteja dando uma de gabola, é só um esgotamento espiritual mesmo (eita!). Enfim, isso aí sim é o tipo de coisa que a gente passa a noite inteira ouvindo e não cansa, até porque essa técnica, creio eu, permite a atuação do acaso e da aleatoriedade, aparentando ser muito difícil repetir a mesma música. Sem mais delongas, eis o vídeo:


E por falar em reinventar as maneiras de tocar e por falar em Django, aqui está uma cena da animação mais do que supimpa "As bicicletas de Belleville", em que acompanhando a apresentação das Tripletes, aparece o Django, tocando com seus dois dedinhos e, com seus pés! Vejam que maravilha:



quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Comemorando: comer e cantar outra vez!

Fiquei hoje bastante feliz, depois dessas minhas ansiosas duas semanas e meia de blog, cheguei às 1.000 visualizações, o que inclui visualizações, além do Brasil, nos EUA, Canadá, Alemanha, França, Espanha, Chile e mais alguns países. Muito obrigado aos meus pacientes leitores! Desse modo, resolvi fazer uma breve comemoração e, para isso, nada melhor do que comer e cantar, no caso de hoje, cantar e comer!
Eu já vinha pensando em fazer uma postagem falando sobre o fantástico músico jazzista Django Reinhardt e achei que agora seria a ocasião ideal. Procurei aqui pela internet algo para falar sobre sua vida, mas já de cara achei o texto da Wikipédia tão bom (http://pt.wikipedia.org/wiki/Django_Reinhardt), que resolvi publicá-lo quase na íntegra. Coloquei uma pequena trilha com algumas de suas músicas na coluna aqui ao lado, na direita, logo abaixo do "Desafio", aproveitem. Sabendo de sua história e de sua dificuldade para tocar, esse camarada fica ainda mais sensacional. Vejam:

"Django Reinhardt (Liberchies, Bélgica, 1910-1953) foi um guitarrista de jazz.
Foi um dos pioneiros do jazz na Europa e também um dos primeiros músicos não negros nesse estilo musical. Compôs "les yeux noirs". Django Reinhardt passou a maior parte de sua juventude em um acampamento cigano próximo a Paris, tocando banjo, guitarra e violino em danceterias de Paris desde muito cedo. Ele começou com o violino e eventualmente tocava um banjo que havia ganhado. Em sua primeira gravação conhecida (de 1928) ele toca o banjo.
Aos 18 anos, Reinhardt foi ferido pelo fogo que incendiou a casa que ele dividia com Bella, sua primeira mulher.Ela fazia flores artificiais de papel e celulose para viver, por isso a casa deles vivia cheia de materiais altamente inflamáveis. Certa noite, ao retornar de uma apresentação, Django derrubou acidentalmente uma vela quando ia para a cama. Enquanto sua família e vizinhos tentavam salvá-lo ele acabou sofrendo queimaduras de primeiro e segundo grau por metade de seu corpo. Sua perna direita ficou paralisada e sua mão esquerda gravemente queimada. Os médicos achavam que ele nunca mais tocaria guitarra novamente. Ele ainda quase teve a perna amputada, mas deixou o hospital pouco tempo depois e, um ano depois, ele já podia andar com a ajuda de bengalas.


O irmão de Django, Joseph Reinhardt (também um exímio guitarrista), lhe trouxe uma nova guitarra. Através de uma dolorosa reabilitação e prática, Django readiquiriu sua habilidade de um modo completamente novo, mesmo com dois dedos parcialmente paralisados. Ele ainda era capaz de usar esses dois dedos para tocar, mas não para fazer solos. Em 1934, Louis Vola formou o "Quintette du Hot Club de France" com Reinhardt, o violinista Stéphane Grappelli, Joseph, o irmão de Django, Roger Chaput na guitarra, e Louis Vola no baixo. Ele produziu numerosas gravações àquele tempo e tocou com diversas lendas do jazz americano como Coleman Hawkins, Benny Carter, Rex Stewart e Louis Armstrong.
(...)
Reinhardt sobreviveu à Segunda Guerra ileso, ao contrário de muitos outros ciganos que foram executados nos campos de concentração nazistas. Essa época foi muito difícil para Django porque o jazz não era permitido no regime nazista. Ele teve a ajuda de um oficial da Força Aérea Alemã chamado Dietrich Schulz-Köhn, conhecido como Doktor Jazz, que admirava muito sua música. Em 1943 ele casou com Sophie Ziegler in Salbris, com quem teve um filho, Babik Reinhardt, que também acabou se tornando um respeitado guitarrista.
(...)
Django Reinhardt foi uma das primeiras pessoas a apreciar e entender a música de Charlie Parker e Dizzy Gillespie. Ele chegou a procurá-los quando chegou a Nova Iorque, mas infelizmente eles estavam em alguma turnê. Depois de retornar à França, Django passou o resto de seus dias voltando para a vida cigana, com dificuldade de se adaptar à vida moderna. Um dos eventos mais enigmáticos foi quando Reinhardt abandonou, na beira de uma estrada, um carro que havia acabado de comprar porque havia acabado a gasolina. Às vezes Django aparecia para um show e não levava seu instrumento, se mudava de repente para a praia ou para um parque, e às vezes se recusava a levantar da cama.
O conceito de "Lead Guitar" (Django) e "Rhythm Guitars" (Joseph Reinhardt / Roger Chaput) nasceu no Quintette Du Hot Club De France. Eles usavam suas guitarras para percussão quando não havia percussão de verdade na sessão. Mais tarde ele formou uma nova banda com saxofone, trompete, piano, baixo e bateria. Ele continuou compondo, e é lembrado como um dos mais talentosos guitarristas do Jazz.
Em 1948, Reinhardt recrutou alguns músicos italianos de jazz (baixo, piano, percussão) e gravou um de seus mais aclamados trabalhos, “Djangology”, mais uma vez em parceria com seu compatriota Stephane Grappelli no violino. Entretanto, sua experiência nos EUA havia feito dele uma pessoa diferente da que Grappelli havia conhecido, influenciado principalmente pelo jazz americano. Mas nessa gravação, Django voltou a suas raízes, tocando de novo a acústica Selmer-Maccaferi. Esta gravação foi recentemente descoberta por entusiastas do jazz e está disponível para venda nos EUA e Europa.
Em 1951 mudou-se para Samois sur Seine, França, perto de Fontainebleau. Ele viveu lá por dois anos até 16 de maio de 1953, quando, retornando da estação de trem de Avon, ele desmaiou devido a uma hemorragia cerebral. O médico levou o dia todo para chegar e Django foi declarado morto ao chegar no hospital em Fontainebleau."


Continuando a celebração, vou colocar aqui uma receita simples, aparentemente muito boa (ainda não a testei!), e que tem uma cara muito bonita. Chama-se "Sorvete de romã sem esforço" e é do livro da Nigella Lawson, aquela bonitona que aparece cozinhando no GNT e vai assaltar a geladeira de noite. O livro é ótimo e se chama "Nigella Express", da Ediouro. Aí está a receita:

"Não é difícil pensar em uma sobremesa que possa ser feita com antecedência. Mas, na maioria das vezes, a vantagem é ter tido todo o trabalho mais cedo. Nesse caso, você prepara tudo com antecedência - eis uma boa razão: é um sorvete -, mas sem nenhum trabalho. Não precisa fazer nenhum creme, não precisa tirar a fôrma do congelador e ficar batendo o sorvete. Basta espremer as frutas e misturar. 
Além desse bom motivo para alegria, há o fato de que esse delicado sorvete cor-de-rosa tem gosto de paraíso.

2 romãs (mais as sementes de uma terceira, para decorar)
1 limão
175g de açúcar de confeiteiro
500ml de creme de leite fresco

1. Tire os sucos das romãs e do limão e ponha numa tigela.
2. Junte o açúcar de confeiteiro e misture para dissolver.
3. Junte o creme de leite fresco e bata tudo junto, até que se formem picos macios no creme cor-de-rosa.
4. Com uma colher, transfira o creme para um recipiente de fecho hermético e deixe no freezer por pelo menos 4 horas, ou de um dia para o outro.
5. Antes de servir, polvilhe o sorvete com sementes de romã.

Rende 8 porções."

Aí abaixo um vídeo do Django:

terça-feira, 14 de setembro de 2010

catavento


Eis aqui outra música minha. Desta feita não vou colocar a gravação da Fumaça da Pólvora e é por dois motivos. O primeiro é que eu dei umas arrumadinhas, umas guaribadas na letra e agora sim eu acho que a música ficou pronta. Mantive seu jeitão original, só arredondei um fraseado ou outro, quem já a conhece não vai se assustar com as mudanças. O segundo motivo é que eu to aprendendo a mexer aqui num programa do computador que grava os sons, cria uns efeitos, já vem com uns instrumentos que a gente toca no próprio teclado do computador... é uma viagem. E eu to aqui verminando nele. O único problema é que quem está cantando sou eu mesmo... e eu sei que quase nunca é uma boa idéia me ouvir cantar. Mas eu tô até gostando! Acho que nem tá tão mal assim... Aí abaixo vai a letra, o poema no final é do Manoel de Barros, é do livro "Matéria de Poesia".  Quem for cantor e quiser gravar essa música é só falar comigo! hahahaha! 


Catavento
(João Lucas)

Acordei cheio de idéias,
cata vento, cata voz,
gira o mundo sob nós,
gira a abelha na colméia.
O velho com sua velha
rodam o sábado todinho,
no passinho mais miudinho.
O artista num momento
vai rodar o catavento
e trazer você pra mim.

Todo mundo na ciranda,
roda e brinca o menino.
Vai girando o destino
no enrolar da minha pança.
Quero ver rodar na dança,
meu amor rodar assim...
nessa ladeira sem fim
esculpida pelo Tempo
que vai rodar o catavento
e trazer você pra mim.

Vem o vento que assopra
o monstrengo e a ventoinha.
Dom Quixote na Prainha,
o cavaleiro abriu a porta
e soprou toda a história
que eu contei no seu jardim.
Essas flores são pra mim!
Quem plantou-as foi o vento
que rodou meu catavento
e trouxe você pra mim!


Matéria de Poesia 3
(Manoel de Barros)

Então - os meninos descobriram que amor
Que amor com amor
Que um homem riachoso escutava os sapos
E o vento abria o lodo dos pássaros

Um garoto emendava uma casa na outra com urina
Outros sabiam a chuvas. E os cupins
Comiam pernas de armário, amplificadores, ligas
religiosas...

Atrás de um banheiro de tábuas a poesia
Tirava as calcinhas pra eles
Ficavam de um pé só para as palavras -
A boca apodrecendo para a vida!

De tarde
Desenterraram de dentro do capinzal
Um braço do rio. Já estava com cheiro.
Grilos atarraxados no brejo pediam socorro.

De toalha no pescoço e anzol no peixe
Eles foram andando...
Botavam meias-solas nas paisagens
E acendiam estrelas com lenha molhada.

Acharam no roseiral um boi aberto por borboletas
Foi bom.
Viram casos de ostras em canetas
E ajudaram as aves na arrumação dos corgos

A todo momento eles davam com a rã nas calças
Cada um com a sua escova
E seu lado de dentro. Apreciavam
Desamarrar os cachorros com lingüiça.

À margem das estradas
Secavam palavras no sol como os lagartos
Passavam brilhantina nos bezerros. E
Transportavam lábios de caminhão...

Nunca poucos fizeram tantos de pinico!
Só iam pra casa de lado - como uma pessoa
Que tem cobra no bolso.
E para cada mão - os cinco dedos de palha.

Os cataventos na Prainha, em Aquiraz-CE. Os créditos da foto são de Mikaeli Cardozo, achei nesse site aqui ó: http://www.panoramio.com/photo/20208811

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

um instrumento sinestésico




Quando eu estava desenvolvendo meu projeto de graduação, o tão famigerado P.G., que lá na arquitetura tem gente que chega a passar mais anos nele do que ao longo do curso, conheci durante minhas pesquisas um instrumento musical incrível chamado Theremin. Eu estava lendo um livro chamado "Sinestesia, Arte e Tecnologia - fundamentos da cromossonia", escrito por Sérgio Roclaw Basbaum; se não me engano esta era sua tese de doutorado, e nesse livro, o autor se mostra bastante interessado no efeito da sinestesia, que é aquele pessoal que, por exemplo, escuta colorido ou que sente o sabor do que vê. Desenvolvendo suas idéias, ele termina por sugerir um programa computacional em que ele faz relações entre a música e as imagens, de modo que tudo o que ele toque possa também projetar certas cores e imagens. É bastante interessante. Mais interessante ainda é o instrumento que ele propõe usar para isso: o Theremin. Sua descrição wikipediana é a seguinte: "O teremim é um dos primeiros instrumentos musicais completamente eletrônicos. Inventado em 1919 pelo russo Lev Sergeivitch Termen (conhecido também pela forma francesa do nome: Léon Theremin), o teremim é único por não precisar de nenhum contato físico para produzir música e foi, de fato, o primeiro instrumento musical projetado para ser tocado sem precisar de contato, pois é executado movimentando-se as mãos no ar. Apresentado pelo próprio inventor em 1920, o instrumento opera através do princípio da produção de efeito heteródino em dois osciladores de frequência radiofônicos e consiste de caixa com duas antenas externas, uma que controla a altura, e outra, o volume, ao redor das quais o músico movimenta suas mãos para produzir som. O teremim também tem versões com teclado e com espelho, como o dos instrumentos de corda."

Porém a grande representante do Theremin, foi, se não me engano, a neta do inventor Léon Theremin, a musicista Clara Rockmore, e é com ela o fantástico vídeo que vou postar a seguir. Espero que aproveitem! (Notem os móveis, o quadro, as roupas... Imaginem-se netos ou sobrinhos dessa mulher, chegando de mansinho, com todo o medo do mundo na casa dela! Por isso que esse instrumento é sem dúvida sinestésico: mesmo que a gente não veja cores ou formas a gente sente algo a mais que é o medo!...)


Nossa casinha


Nossa casinha
(João Lucas)


Nossa casinha
terá detalhes de ladrilhos
colorindo pelo chão.
Vai ter uma mesinha redonda
com xícaras de louça
para o café da manhã.
No quintal, um jardim enorme
vai abrigar todas as flores,
todas as frutas e os bichos das frutas.
E os bichos que não são das frutas
mas que também estarão
no nosso jardim, morando conosco,
nos lembrando todos os dias
de como é que se deve viver.
Móveis antigos, paredes novas.
Um porta-retrato
–  dos que já foram,
dos que já nos são
e dos que ainda serão
um brilho em nossos olhos.
Nossa casinha é tão bonita
que já nem é mais o meu sonho:
é a minha realidade
que se impregnou de tua alma.




Isabellinhêê! Essa poesia é pra ti! Liga o computador! 

domingo, 12 de setembro de 2010

A filosofia do Penetral

"Há muito tempo que eu desejava me instruir sobre aquela profunda Filosofia clementina, para me ajudar em meus logogrifos. Por isso, avancei:
- Clemente, esse nome de "penetral" é uma beleza! É bonito, difícil, esquisito, e, só por ele, a gente vê logo como sua Filosofia é profunda e importante! O que é que quer dizer "penetral", hein?
Clemente, às vezes, deixava escapar "vulgaridades e plebeísmos" quando falava, segundo sublinhava Samuel. Naquele dia, indagado assim, respondeu:
- Olhe, Quaderna, o "penetral" é de lascar! Ou você tem "a intuição do penetral" ou não tem intuição de nada! Basta que eu lhe diga que "o penetral" é "a união do faraute com o insólito regalo", motivo pelo qual abarca o faraute, a quadra do deferido, o trebelho da justa, o rodopelo, o torvo torvelim e a subjunção da relápsia!
- Danou-se! - exclamei, entusiasmado. - O penetral é tudo isso, Clemente? -Tudo isso e muito mais, Quaderna, porque o penetral é o "único-amplo"! Você sabe como é que "a centúria dos íncolas primeiros", isto é, os homens, sai da "desconhecença" para a "sabença"?
- Sei não, Clemente! - confessei, envergonhado.
- Bem, então, para ir conhecendo logo o processo gaviônico de conhecimento penetrálico, feche os olhos!
- Fechei! - disse eu, obedecendo.
- Agora, pense no mundo, no mundo que nos cerca!
- O mundo, o mundo... Pronto, pensei!
- Em que é que você está pensando?
- Estou pensando numa estrada, numas pedras, num bode, num pé de catingueira, numa Onça, numa mulher nua, num pé de coroa-de-frade, no vento, na poeira, no cheiro do cumaru e num jumento trepando uma jumenta!
- Basta, pode abrir os olhos! Agora me diga uma coisa: o que é isto que você pensou?
- É o mundo!
- É não, é somente uma parte dele! É "a quadra do deferido", aquilo que foi deferido a você, como "íncola"! É "o insólito regalo"! É "o côisico", dividido em duas partes: a "confraria da incessância" e "a força da malacacheta", representada, aí no que você pensou, pelas pedras. Agora pergunto: tudo isso pertence ou não pertence ao penetral?
- Não sei não, Clemente, mas pela cara que você esta fazendo, parece que pertence.
- Claro que pertence, Quaderna! Tudo pertence ao penetral! Tudo se inclui no penetral! Entretanto, para completar "o túdico" você, na sua enumeração do mundo, deixou de se referir a um elemento fundamental, a um elemento que estava presente e que você omitiu! Que elemento foi esse, Quaderna?
- Sei não, Clemente!
- Foi você mesmo, "o faraute"!
O Faraute não, o Quaderna! - disse eu, logo cioso da minha identidade.
- O Quaderna é um faraute! - insistiu Clemente.
Como aquilo podia ser alguma safadeza, reagi:
- Epa, Clemente, vá pra lá com suas molecagens! Faraute o quê? Faraute uma porra! Faraute é você! Não é besta não?
- Espere, não se afobe não, homem! Faraute não é insulto nenhum! Eu sou um faraute, você é um faraute, todo homem é um faraute!
- Bem, se é assim, está certo, vá lá! E o que é um faraute, Clemente?
- Ora, Quaderna, você, leitor assíduo daquele Dicionário Prático Ilustrado que herdou de seu Pai, perguntar isso? Vá lá, no seu querido livro de figuras, que encontra! "Faraute" significa "intérprete, língua, medianeiro"! O curioso é que "a quadra do deferido" e o "rodopelo" pertencem ao penetral, mas o faraute, seja "nauta-arremessado" ou "tapuia-errante", também pertence! Não é formidável ? É daí que se origina "o horrífico desmaio", o "tonteio da mente abrasada"! Inda agora, quando pensou no mundo, você não sentiu uma vertigem não?
- Acho que não, Clemente!
- Sentiu, sentiu! É porque você não se lembra! Quer ver uma coisa? Feche os olhos de novo! Isto! Agora, cruze as mãos atrás da nuca! Muito bem! Pense de novo naquele trecho do insólito regalo em que pensou há pouco! Está pensando?
- Estou!
- Agora, me diga: você não está sentindo uma espécie de tontura não?
Eu, que sou impressionável demais, comecei a oscilar, sentindo uma tonteira danada, na cabeça. Pedi permissão a Clemente para abrir os olhos, porque já estava a ponto de cair da sela. O Filósofo, triunfante, concedeu:
- Abra, abra os olhos! Como é? Sentiu ou não sentiu a vertigem? Sabe o que é isso? É a "oura da folia", início da "sabença", da "conhecença"! A oura causa o "horrífico desmaio". Este, leva ao "abismo da dúvida", também conhecido como "a boca hiante do contempto". O abismo comunica ao faraute a existência do "pacto" e da "ruptura". A ruptura conduz à "balda do labéu". E é então que o nauta-arremessado e tapuia-errante torna-se único-faraute. Isto é, o faraute é, ao mesmo tempo, faraute do insólito-regalo, faraute do rodopelo e faraute do faraute! Está vendo? O que é que você acha do penetral, Quaderna?
- Acho de uma profundeza de lascar, Clemente! Para ser franco, entendi pouca coisa, mas já basta para me mostrar que sua Filosofia é foda! Mas o que é, mesmo, penetral?
- Vá de novo ao "pai-dos-burros"! "Penetral" é "a parte mais recôndita e interior de um objeto". Mas, na minha Filosofia, essa noção é ampliada, porque além de abranger a quadra do deferido e o rodopelo, o penetral abrange também o faraute, através da subjunção da relápsia! Mas, no momento em que se fala friamente do penetral, tentando capturá-lo em categorias de uma lógica sem gavionice negro-tapuia, ele deixa de ser apreendido! Faça apelo aos gaviônicos restos de sangue Negro e Tapuia que você tem, Quaderna, e entenda que o penetral "é o penetral", que o penetral "é"! O côisico, coisica: os cavalos cavalam, as árvores arvoram, os jumentos jumentam, as pedras pedram, os móveis movelam, as cadeiras cadeiram, e o faráutico, machendo e feminando, é que consegue genterer e farauticar! É assim que o túdico tudica e que o penetral penetrala - e esta, Quaderna, é a realidade fundamental!
- Arra diabo! - disse eu, de novo embasbacado. - E tudo isso já estava na Mitologia Negro-Tapuia, Clemente?
- Estava, estava! Aliás, está, ainda! É por isso que o "Gênio da Raça Brasileira" será um homem do Povo, um descendente dos Negros e Tapuias, que, baseado nas lutas e nos mitos de seu Povo, faça disso o grande assunto nacional, tema da Obra da Raça!
Claro que era em si mesmo que Clemente estava pensando. Mas Samuel contestou logo:
- Nada disso, Quaderna! O "Gênio da Raça Brasileira" deverá ser um Fidalgo dos engenhos pernambucanos! Um homem que tenha nas veias o sangue dos Conquistadores ibéricos que fundaram, com a América Latina como base, o grande Império que foi o orgulho da Latinidade católica! Portugal e a Espanha não tinham dimensões para realizar aquilo que, neles, foi somente uma aspiração! Mas o Brasil é um dos sete Países perigosos do mundo! Por isso, cabe a nós instaurar, aqui, esse Império glorioso que Portugal e a Espanha não puderam realizar!
- Mas como deverá ser escrita a Obra da Raça Brasileira? - perguntei. - Em verso ou em prosa ?
- A meu ver, em prosa! - disse Clemente. - E é assunto decidido, porque o filósofo Artur Orlando disse que "em prosa escrevem-se hoje as grandes sínteses intelectuais e emocionais da humanidade"!
Samuel discordou:
- Como é que pode ser isso, se todas as "obras das raças" dos Países estrangeiros são chamadas de "poemas nacionais"?
- O Almanaque Charadístico diz, num artigo, que os Poetas nacionais são, sempre, autores de Epopéias! - tive eu a ingenuidade de dizer.
Os dois começaram a rir ao mesmo tempo:
- Uma Epopéia! Era o que faltava! - zombou Samuel. - Vá ver que Quaderna anda pelos cantos é conspirando, para fazer uma! Sobre o quê, meu Deus? Será sobre essas bárbaras lutas sertanejas em que ele andou metido? Não se meta nisso não, Quaderna! Não existe coisa de gosto pior do que aquelas estiradas homéricas, cheias de heróis cabeludos e cabreiros fedorentos, trocando golpes, montados em cavalos empastados de suor e poeira, a ponto de a gente sentir, na leitura, a catinga insuportável de tudo!
Clemente uniu-se ao rival, se bem que por outro caminho. Disse:
- Além disso, a glorificação do Herói individual, objetivo fundamental das Epopéias, é uma atitude superada e obscurantista! E se você quer uma autoridade, Carlos Dias Fernandes também já demonstrou, de modo lapidar, que, nos tempos de hoje, a Epopéia foi substituída pelo Romance!"
Ariano Suassuna (Romance da Pedra do Reino, 1971)