terça-feira, 14 de setembro de 2010

catavento


Eis aqui outra música minha. Desta feita não vou colocar a gravação da Fumaça da Pólvora e é por dois motivos. O primeiro é que eu dei umas arrumadinhas, umas guaribadas na letra e agora sim eu acho que a música ficou pronta. Mantive seu jeitão original, só arredondei um fraseado ou outro, quem já a conhece não vai se assustar com as mudanças. O segundo motivo é que eu to aprendendo a mexer aqui num programa do computador que grava os sons, cria uns efeitos, já vem com uns instrumentos que a gente toca no próprio teclado do computador... é uma viagem. E eu to aqui verminando nele. O único problema é que quem está cantando sou eu mesmo... e eu sei que quase nunca é uma boa idéia me ouvir cantar. Mas eu tô até gostando! Acho que nem tá tão mal assim... Aí abaixo vai a letra, o poema no final é do Manoel de Barros, é do livro "Matéria de Poesia".  Quem for cantor e quiser gravar essa música é só falar comigo! hahahaha! 


Catavento
(João Lucas)

Acordei cheio de idéias,
cata vento, cata voz,
gira o mundo sob nós,
gira a abelha na colméia.
O velho com sua velha
rodam o sábado todinho,
no passinho mais miudinho.
O artista num momento
vai rodar o catavento
e trazer você pra mim.

Todo mundo na ciranda,
roda e brinca o menino.
Vai girando o destino
no enrolar da minha pança.
Quero ver rodar na dança,
meu amor rodar assim...
nessa ladeira sem fim
esculpida pelo Tempo
que vai rodar o catavento
e trazer você pra mim.

Vem o vento que assopra
o monstrengo e a ventoinha.
Dom Quixote na Prainha,
o cavaleiro abriu a porta
e soprou toda a história
que eu contei no seu jardim.
Essas flores são pra mim!
Quem plantou-as foi o vento
que rodou meu catavento
e trouxe você pra mim!


Matéria de Poesia 3
(Manoel de Barros)

Então - os meninos descobriram que amor
Que amor com amor
Que um homem riachoso escutava os sapos
E o vento abria o lodo dos pássaros

Um garoto emendava uma casa na outra com urina
Outros sabiam a chuvas. E os cupins
Comiam pernas de armário, amplificadores, ligas
religiosas...

Atrás de um banheiro de tábuas a poesia
Tirava as calcinhas pra eles
Ficavam de um pé só para as palavras -
A boca apodrecendo para a vida!

De tarde
Desenterraram de dentro do capinzal
Um braço do rio. Já estava com cheiro.
Grilos atarraxados no brejo pediam socorro.

De toalha no pescoço e anzol no peixe
Eles foram andando...
Botavam meias-solas nas paisagens
E acendiam estrelas com lenha molhada.

Acharam no roseiral um boi aberto por borboletas
Foi bom.
Viram casos de ostras em canetas
E ajudaram as aves na arrumação dos corgos

A todo momento eles davam com a rã nas calças
Cada um com a sua escova
E seu lado de dentro. Apreciavam
Desamarrar os cachorros com lingüiça.

À margem das estradas
Secavam palavras no sol como os lagartos
Passavam brilhantina nos bezerros. E
Transportavam lábios de caminhão...

Nunca poucos fizeram tantos de pinico!
Só iam pra casa de lado - como uma pessoa
Que tem cobra no bolso.
E para cada mão - os cinco dedos de palha.

Os cataventos na Prainha, em Aquiraz-CE. Os créditos da foto são de Mikaeli Cardozo, achei nesse site aqui ó: http://www.panoramio.com/photo/20208811

Um comentário:

Belle disse...

Você tornou romântica a passagem do tempo... Muito bonita essa letra! Eu consegui ver tudo que você cantou. Ouvi com os olhos;-)

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