domingo, 5 de setembro de 2010

pedra que a vida flor


Eu ia hoje dar uma de Rob Gordon, o John Cusack de Alta Fidelidade e criar um top5. Seria um top5 de músicas e/ou poemas urbanísticos. Desses que muito bem retratam uma cidade e que na maioria das vezes falam bem mais sobre sua essência do que muitos tratados urbanos técnicos. Porém, enquanto pensava em minha lista, lembrei-me de uma música que eu mesmo fiz há alguns anos, junto com o Osvaldim (fizemos mais composições juntos, devagarinho elas vão aparecendo!) e resolvi fazer a postagem falando apenas dela, de modo que o top5 ficará para outro dia.
Essa foi uma gravação feita em julho de 2004, ao vivo, no Theatro José de Alencar, pela banda Fumaça da Pólvora, grupo que eu participava, tendo sido um dos fundadores tocando acordeão e rabeca. Hoje a banda já nem existe mais. Mas enquanto durou foi uma época bem interessante em minha vida, de bastante produção. Deixou saudades. 
O título da música é exatamente a idéia que quero passar com esse blog, falando de arquitetura. Pedra que a vida flor. Pedra é a construção, o concreto, o asfalto, a cidade... E é somente a vida, com suas relações, com o seu tempo, com sua arte do encontro (embora haja tantos desencontros), que pode fazer essa pedra brotar, que pode fazer flor essa pedra, através do carinho, da delicadeza e do afeto.
A música é então meu canto. Minha cidade, Fortaleza, descrita por um rapaz que não tinha nem seus vinte anos ainda (estou dizendo isso pra que vocês dêem um desconto nas exigências literárias!). Sem mais delongas, vamos ao que interessa, a música:




Pedra que a vida flor
(João Lucas/Osvaldo Costa)

Eu ia correndo
olhando o sol
eu ia (quase!) amando
nesse calor.
Aonde a vida é triste,
aonde a vida for.
Aonde o sol me leve
e leve só eu vou.

Só era mentira 
aquele mar.
Não era artista, 
textura e cor.
Na Fortaleza bela
o que do mar restou.
O que me avessa a pele:
o verso avessa a dor.

Eu não sabia 
que estavas só.
Eu não vivia
do teu pulsar.
A boemia antiga
o vento mau levou.
A Iracema era,
hoje não sei quem sou.

Um bem fica
no coração:
defesa inútil
pra solidão.
Lá onde o asfalto apaga
marcas do meu avô.
Na praça o beijo aponta.
O amor se acabou.

Era tão verde 
aquele mar.
Mas foi espuma
o que restou.
No litoral da vida
a vida se afogou.
Na luz daquele dia
perdi o teu calor.

Eu não queria
dormir tão só.
Eu não pedia
sonhos sem cor.
Eu só queria o tempo
que o Tempo arrastou.
Florindo feito pedra,
pedra que a vida flor.

Voz: Emanuela Ramos
Acordeão: João Lucas (a música é minha mesmo, posso fazer besteira à vontade!)
Violão 1 e assobio: Rogério Jales 
Violão 2: Davi Teixeira
Baixo: Levi Teixeira
Bateria: Nildo Bastos
Percussões: Juliano Smith, Rafael e Marcelo Santos

Um forte abraço a todos!



Um comentário:

Belle disse...

Você deveria compor mais! Quero ouvir mais músicas suas! beijooooooo!!!

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