quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Os 3 maiores minutos da história do futebol

Já que venho falando tanto na Teoria dos Sistemas, venho aqui prometer que muito em breve, farei uma postagem explicando alguns de meus entendimentos sobre esta teoria. Sei que será inevitável pois ela é base ontológica das minhas idéias. Mas até lá, prefiro ir misturando alhos com bugalhos o máximo possível, na esperança de criar um ambiente repleto de informações! Pois como diria Ednardo: "está escrito no grande livro da sabedoria popular, que primeiro se deve viver que é pra depois poetar!"
Bom mesmo é um livro que ganhei há 5 anos atrás, chamado Estrela Solitária, de Ruy Castro (editora Companhia das Letras). Este livro conta a história de "um brasileiro chamado Garrincha". É lindíssimo. A escrita de Ruy Castro tem ginga, fluidez e inebria como uma boa cachaça... ou como Garrincha. E este foi um dos maiores artistas que nosso país já criou. Não pode ser esquecido nunca! Fez um nação inteira rir e chorar. Foi, antes de mais nada, a própria imagem dessa nação. Quem ainda não leu este livro que corra! Perdeu metade da vida! Se for um amante do futebol, então, enlouquecerá! Vou colocar um trecho aqui do livro, que fala sobre o jogo Brasil x União Soviética na copa de 1958. É importante lembrar que no dia 25 de maio, em um amistoso de preparação para esta copa, contra a Fiorentina, em Roma (contando com quatro titulares da seleção italiana), depois de estar ganhando por 3 x 0, Garrincha driblou 3 marcadores, driblou o goleiro, mas não chutou no gol. Driblou outra vez seu primeiro marcador, entrou com bola e tudo. Dentro do gol, deu um peteleco na bola e voltou com ela debaixo do braço para o centro de campo. Foi sacado do time! Entrava agora no terceiro jogo do Brasil na copa, justamente contra a União Soviética. Na opinião de muitos, os primeiros 3 minutos do jogo foram os maiores 3 minutos da história do futebol!

"Quando a seleção reuniu-se ao redor de Feola para as últimas intruções, todos escutaram quando ele virou-se pra Didi:
“E não esqueça, Didi. A primeira bola é pra Garrincha.”
E pra Garrincha:
“Tente descadeirá-los de saída.”

Monsier Guingue, gendarme nas horas vagas, ordena o começo da partida. Didi centra rápido para a direita: 15 segundos de jogo. Garrincha escora a bola com o peito do pé: 20 segundos. Kuznetzov parte sobre ele. Garrincha faz que vai pra esquerda, não vai, sai pela direita. Kuznetzov cai e fica sendo o primeiro João da Copa do Mundo: 25 segundos. Garrincha dá outro drible em Kuznetzov: 27 segundos. Mais outro: 30 segundos. Outro. Todo o estádio levanta-se. Kuznetzov está sentado, espantado: 32 segundos. Garrincha parte para a linha de fundo. Kuznetzov arremete outra vez, agora ajudado por Voinov e Krijveski: 34 segundos. Garrincha faz assim com a perna. Puxa a bola pra cá, para lá e sai de novo pela direita. Os três russos estão esparramados na grama, Voinov com o assento empinado para o céu. O estádio estoura de riso: 38 segundos. Garrincha chuta violentamente, cruzado, sem ângulo. A bola explode no poste esquerdo da baliza de Iashin e sai pela linha de fundo: 40 segundos. A platéia delira. Garrincha volta para o meio do campo, sempre desengonçado. Agora é aplaudido.
“A torcida fica de pé outra vez. Garrincha avança com a bola. João Kuznetzov cai novamente. Didi pede a bola: 45 segundos. Chuta de curva, com a parte de dentro do pé. A bola faz a volta ao lado de Igor Netto e cai nos pés de Pelé. Pelé dá a Vavá: 48 segundos. Vavá a Didi, a Garrincha, outra vez a Pelé, Pelé chuta, a bola bate no travessão e sobe: 55 segundos. O ritmo do time é alucinante. É a cadência de Garrincha. Iashin tem a camisa empapada de suor, como se já jogasse há várias horas. A avalanche continua. Segundo após segundo, Garrincha dizima os russos. A histeria domina o estádio. E a explosão vem com o gol de Vavá, exatamente aos três minutos.”

Foi assim que o repórter Ney Bianchi reproduziu em Manchete Esportiva aquele começo de jogo, como se estivesse um olho na bola e outro no cronômetro. Outro jornalista, Gabriel Hannot, diria que aqueles foram os maiores três minutos da história do futebol – e, com mais de setenta anos, ele fora testemunha ocular dessa história. A avalanche fora tão impressionante que, assim que se viu vazado, Iashin cumprimentou o primeiro brasileiro que lhe passou por perto – por acaso, Pelé."


Fantástico. Lindo. Emocionante.


Garrincha passando por 8 marcadores mexicanos!

3 comentários:

Belle disse...

Será que todo esse drible seria possível nos dias de hoje? O Garrincha era mesmo fantástico! Essa foto é ótima... oito jogadores marcando ele... impressionante!

Unknown disse...

po, ruy castro merece tb todas as honras! acrescento ai na lista das leituras indispensaveis outra biografia escrita por ele: "o anjo pornografico - nelson rodrigues", que dizia o seguinte sobre o brasileiro:

"O brasileiro não está preparado para ser 'o maior do mundo' em coisa nenhuma. Ser 'o maior do mundo' em qualquer coisa, mesmo em cuspe à distância, implica uma grave, pesada e sufocante responsabilidade."

Unknown disse...

sensacional.

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