domingo, 19 de setembro de 2010

campanhas (2)



Apesar do pífio sucesso da minha primeira campanha, aquela das árvores frutíferas, não pensem que eu desisti! Após um domingo nauseabundo, desses que após a cerveja mal engolida do sábado, a gente passa o dia inteiro se encostando no sofá, se arrastando pra cama, com o cabeção parecendo estar com o dobro do tamanho, lembrei-me, depois que a minha namorada foi pra sua casa, - e é claro que eu só me lembrei por sua causa, afinal, ela é, para meu orgulho e minhas dores, uma dessas descendentes de Iracema que mantém a arte -, de uma pequena crônica do velho e bom Xico Sá. E ela é o tema da minha campanha. Não é necessário eu explicar mais nada, apenas colocá-la aqui. Essa creio que vai decolar! Abraços e até segunda-feira!

DA ARTE DE ESPREMER CRAVOS E ESPINHAS
(Xico Sá)

Aqui nos pegamos, mascando o chiclete Ploc da nostalgia precoce, para lembrar os tempos em que as mulheres espremiam nossas espinhas e tiravam todos os cravos do nariz e arredores _inclusive aqueles na ponta da napa, motivo suficiente para gritaria e espirros tantos da nossa parte.

Reclamávamos nesse momento, éramos chamados de frouxos. Inevitáveis comparações com a dor do parto e outras dores femininas ecoavam no ar nessa hora solene. E quando elas escolhiam justo a hora do futebol, o ataque do time do coração, vilge, nossa! 
Hoje, quando estão praticamente extintas as mulheres da brigada contra cravos e espinhas (suerte que a cria da minha costela mantém-se na resistência gaulesa e aproveita a boa luz das manhãs dominicais) , sentimos a perda, uma vez que nunca dominamos muito bem essa arte. Nem mesmo na adolescência, quando nos transformamos em verdadeiros e monstruosos Mr. Hydes _culpa, óbvio, do glorioso vício solitário, que além das espinhas ainda nos pregava pêlos na palma da mão, de modo a nos devolver ao darwinianíssimo macaqueamento do macho. 

Como não acreditamos nos milagrosos creminhos usados pelos metrossexuais _esse novo tipo de homem moderno gerado da costela de David Beckhan_ preferimos incentivar o resgate da prática feminina de tirar cravos e espinhas, essa bela e útil mania praticamente extinta nos dias que correm. 
Vez por outra ainda damos a sorte de avistar, em alguma parada de ônibus, uma voluntariosa senhora ou senhorita a espremer o rosto de um camarada. Sempre uma bela cena produzida pelos suburbanos corações.

Sim, não tem a menor graça, nesse mundo tão imbecilmente profissionalizado, a limpeza de pele dos salões de beleza. Seu rosto ali entregue a amistosas funcionárias sem nenhuma intimidade, mulheres que nunca ouviram os nossos roncos de noite na cama. É o tipo de serviço que exige histórico de intimidades. Tal arte carece de pelo menos um mês de namoro ou acasalamento. Não é tarefa para qualquer uma. É tão delicado quanto tirar a roupa pela primeira vez na frente de outrem - e, pensando bem, uma reveladora prova de devoção. 
A menos que seja uma perversa incatalogável, uma gazela não escarafuncha suas crateras à toa. Quando ela posiciona aqueles dois indicadores sobre a sua bíblica face, parece aceitar a convivência harmoniosa até com as nossas mais indignas impurezas. É provação, é decência feminina no último. E quando ela mostra o resultado na ponta da unha, aquela linda revoluçaozinha dos cravos domingueiros contra o tédio da existência!?


retirado de o carapuceiro

Um comentário:

Belle disse...

Rum! Vou registrar essas confissão, viu?! Sempre soube que aquele drama todo era só manha...

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