O Falcão sempre diz que daqui a uns anos quem não for viado ou corno nem entra em casa! É certo que com todas as Sachas, inseminações artificiais, possibilidades de adotar, o homem tem virado cada vez mais um item supérfluo. Ainda mais com o crescimento dessa nova figura que são os metrossexuais, parece que nós velhos machos brutamontes estamos virando espécie cada vez mais em extinção. Inclusive, vejam só, andando pelas ruas de nossa Fortaleza, vi um estabelecimento comercial chamado "Pra quê marido?" em que a mulher que esteja sozinha em casa sem conseguir trocar a lâmpada, por exemplo, liga para o dito comércio que logo envia um "marido" para exercer o masculino serviço. Pois vejam o início desses novos tempos: uma moça Taiwanesa resolveu se casar. Como não arranjava um pretendente digno, à altura, resolveu casar-se sozinha! Isso mesmo! Casou-se consigo mesma, com aquele velho grito de guerra de quem está querendo sair da fossa: "eu me amo!". Aqui está a reportagem:
"Mesmo sem noivo, uma mulher taiwanesa pretende realizar no próximo mês uma cerimônia de casamento. Ela, inclusive, mostrou o vestido de noiva que irá usar no dia, segundo reportagem da emissora norte-americana de TV "Wesh".
A mulher identificada como "Chen" contratou uma cerimonialista para cuidar do planejamento. Ela pretende fazer uma festa para 30 convidados. "Eu não encontrei um parceiro. Então, o que eu posso fazer?", questionou Chen.
Ela destacou que espera expressar uma ideia diferente sobre o casamento. Chen acrescentou que, se achar um pretendente depois, vai se casar novamente. Apesar do casamento individual, a mulher irá passar lua-de-mel na Austrália após a cerimônia."
Lembrei-me então dessas duas crônicas do grande Xico Sá, em que ele define muito bem as diferenças entre um macho-jurubeba e um reles metrossexual. Eis:
CASA COR DO MACHO SOLTEIRO
(Xico Sá)
"Noves fora o “homem de predinho antigo”, aquela criatura "evoluída" que adora um pé-direito alto, um sofá de época, objetos de design e uma luz indireta, o MACHO SOLTEIRO ROOTS é um desastre no capítulo decoração. Tem lá o seu sofá velho, a sua tv, uma cama barulhenta, três ou quatro panelas _sem cabo_ encarvoadas pelo tempo, e copos de requeijão, muitos copos de requeijão, alguns deles ainda com um pedaço do papel do rótulo. Se brincar, o cara coleciona também os velhos copos de geléia de mocotó, um primor de utensílio “vintage”.
E quando a fofa, toda fina e fresca, nova namorada, chega lá no “muquifo” com a sua garrafa de champanhe?! Procura, procura as taças, para fazer uma graça com o marmanjo, e nada. O jeito é beber Veuve Cliquot em copo de extrato de tomate. Quem mandou apaixonar-se por um macho-jurubeba autêntico, que vem a ser justamente o avesso do metrossexual, aquele mancebo da moda que se lambuza de creminhos da Lancôme e decora o loft, sim, ele mora num loft, de acordo com as tendências da revista “Wallpaper”.
Pior é quando ela tenta mudar tudo. E põe aquele seu quadro caríssimo e de grife numa sala que não tem nem mesmo um sofá que preste?!
Um desastre.
A fofa, toda classe média metida a besta, não desiste nunca. Ai presenteia o bofe -sim, ela está doida e perdidinha pelo vagabundo- com uma batedeira prateada ultramoderna com 600 funções, que nunca será usada. Ai fica aquela batedeira high-tech fazendo companhia aos três pratos chinfrins e aos garfos tortos _como se o Uri Geller, aquele parapsicólogo que aparecia no Fantástico das antigas, tivesse jantado por lá ou feito faxina na área.
Ela começa a revirar geral, um deus-nos-acuda, numa casa onde ninguém havia mudado sequer uma planta de lugar. O reino vegetal, aliás, é outro ponto fraco do macho solteiro. Jarros, flores? Nem de plástico.
Na casa do homem solteiro típico, a utilidade triunfa sobre a estética. O cúmulo do utilitarismo. Sofá da tia-avó vira cama, como diz a minha amiga D., co-autora dessa crônica. A cama vira sofá, a rede vira sofá e cobertor, o cobertor vira cortina preso à persiana...
A falta de cortina é outra marca registrada do desmantelo do cavaleiro solitário. Quando muito, papel filme.
Abajur? De jeito maneira. Tosco no último, ele não tem cultura de luz indireta, nem nunca terá, esqueça.
Outro traço de personalidade do macho solteiro: tudo que chega até a cozinha vira tupperware -aquelas embalagens plásticas de lasanha comprada pronta, caixinha de entrega de comida chinesa ou japonesa, potes de sorvete... Uma festa!
Sim, na geladeira só latinhas de cerveja, uma garrafa de água vazia e uma triste e chorosa cebola partida ao meio."
e esta...
MODOS DE MACHO - A capanga e a vida
(Xico Sá)
(BR Press) - "Ao me deparar esta semana, em um banheiro de um moderno restaurante de São Paulo, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.
Como bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos. Um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 1990 – quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual.
Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico. Era, sim, naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro. Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.
Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros. Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo o mundo”.
Vemos aqui também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável. O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.
Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara – se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.
Objeto de investigação e estudo do caboclo pré-metrossexualismo, a capanga dos mais espertos continha ainda um canivete e, para eventuais dores de macho, cachetes de Cibazol.
Aí, porém, já saímos um pouco dos cuidados estéticos e vasculhamos outros armarinhos de miudezas do vasto museu deste homem que – para o bem ou para o mal – já era."