terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Carta a Papai Noel

Sempre que chega essa época de natal, lembro desse poema de Chico Pedrosa. Ele é um poeta popular formidável, que recita suas poesias como ninguém. Esse poema é uma beleza e já estou disposto a decorá-lo para recitar nas próximas boas festas. Leiam e escutem, que maravilha!


Carta a Papai Noé
(Chico Pedrosa)

Seu moço, eu fui um garoto
infeliz na minha infança.
Vim saber que fui criança
já pela boca dos ôtos.
Só brinquei com os gafanhoto
que achava nos tabuleiro,
debaixo do juazeiro,
com minhas vaca de osso;
essas porquera, seu moço,
que se arruma sem dinheiro.

Quando eu via um gurizim
brincando de velocípede,
de caminhão, de jipe
de bola, revolve, carrim...
Sentia dentro de mim
um desgosto que dava medo.
Ficava chupando dedo
e chorava o resto do dia,
só pruque eu não pudia
pegar naqueles brinquedo.

Perguntei certa vez
a uns filhos dum dotô:
- diga fazendo favô
quem dá isso pra vocês!
Respondeu logo os três:
-Isso aqui é uns presente
que a gente é inucente
vai drumi e às vez nem nota,
aí Papai Noé vem e bota
perto da cama da gente.

Fiquei naquilo pensando
inté o natal chegar.
E na noite de natal
fui drumi me alembrando.
Acordei e fiquei caçando
por onde tava deitado:
Seu moço fui enganado!
Pois de presente só tinha,
de mijo uma pocinha,
que eu mermo tinha mijado!

Saí com a bixiga preta
cassando os amigos meu.
Quando eles mostraram a eu
carro, caminhão, carreta,
bola, revórve, corneta,
trem elétrico, inté
boneco, máquina de pé,
eu não brinquei, só fiz vê,
resorvi aí escrever
uma carta a Papai Noé:

Papai Noé é pecado
os otro lhe maltratar,
mas eu vou lhe reclamar
uns troço que tá errado:
aos filho dos deputado
o sinhô dá tanto carrim,
mas o sinhô é muito ruim
que lá em casa num vai,
por certo não é meu pai,
que não se lembra de mim!

Já tô certo que você
só balança o povo seu,
e um pobre cuma eu
o sinhô vê e faz que num vê.
Se o sinhô vê,
porque lá em casa num vem?
o rancho que agente tem
é pequeno mas lhe cabe,
será que o sinhô num sabe
que pobre é gente também?...

Você de roupa encarnada
colorida e bonitinha
nunca reparou que a minha
está toda remendada?
seja mais meu camarada
preu num lhe chamar de ruim!
Nesse natá faça assim:
dê menos ao "fio" do rico
de cada um tire um tico, 
e traga um presente pra mim!

Meu endereço eu vou lhe dar:
a casa que eu moro nela
fica naquela favela
que o sinhô nunca foi lá!
Mas quando o sinhô chegar 
e avistar um paioça
coberta com lona grossa
e uma porta de flandre
com 2 buracão bem grande:
pode bater que é a nossa!

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Vou não, quero não, posso não, minha mulher num deixa não...

"Como diria minha avó: diga duvi-dê-ó-dó!"

Sabe essas coisas que de tão esdrúxulas, absurdas, têm um que de geniais? Pois bem, nós todos que fazemos parte da Catavento não entendemos bulhufas desse negócio todo de redes sociais, facebook, twiter, orkut, de modo que estamos, na marra, criando tudo isso. O interessante é que hoje abri o email da Catavento e lá tinha uma mensagem do Twiter dizendo que alguém se colocou como seguidor. Até agora, o primeiro e único. Quando fui ver quem era a figura, vejam só que interessante, não era nada mais nem menos do que o Luis Caldas! Sim, aquele Luis Caldas da nêga do cabelo duro que não gosta de pentear! Liguei pra Caroline e pra Isabelle na mesma hora, as duas ficaram empolgadíssimas! Nosso único seguidor no twiter é o Luis Caldas! É ou não é genial!?

Logo depois, abri meu email, vejam só, eu tinha recebido um email da Caroline com esses vídeos dessas figuras, que de tão toscos, ridículos, têm um quê de genial:



É como essa música do Alípio Martins, que ao invés de ele decidir de onde vem a piranha antes de escrever a música, resolveu pensar nisso durante! E ele erra, se desculpa, tenta de novo! É outra coisa que de tão ridícula beira o genial!



quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O bom filho torna à casa, por isso eu vou voltar!

Eu vou contar seu moço
Por que deixei meu sertão
Não foi por falta de inverno
Não foi pra fazer baião...

Ai meu Deus, quanta saudade
Do Lachinha e do Sané
Do De Ouro, do Leipinha
João Piston, do Rafaé
Esmagado, Garrinchinha
São meus amigos de fé...

É assim, com as palavras de João do Vale que estou voltando à ativa no blog. Como minha irmã diz, eu sempre sou intenso, começo uma coisa e foco todas as minhas energias naquilo (e vejam que não sou poucas energias... como já diria o pai do Lázaro, seu Josué: "É muita energia!") e termino deixando as outras coisas meio que de lado. Mas com esse blog vai ser diferente, eu vou conseguir cultivá-lo (ou cultivá-los?) por bem mais tempo. É capaz de até ter sido bom essa pausa pra dar uma trégua de mim pra vocês e deixar um pouco de saudade. Espero que voltem a acompanhar as minhas vociferações!

E por falar em cultivo, estou com uma vontade danada de começar a cultivar uvas, alguém tem alguma dica pra eu plantar uvas aqui no Ceará? Espécies cabeças-chatas, acostumadas ao calor, ao sol quente e ao mormaço?!

Para quem ainda não sabe, estou numa peleja danada começando um negócio. Minha irmã achou no fundo do baú daqui de casa um maço de cartazes de filmes que ela ganhara há alguns anos, do Sávio, nosso "Lindalvo", grande camarada. Daí nos veio a idéia de transformar aqueles cartazes em camisetas. Já com a idéia na cabeça, vislumbrei nas capas de vinis e nos jogos de tabuleiro que moram aqui ao meu redor outras possibilidades de camisas. A idéia foi crescendo, crescendo e agora nós já temos uma loja virtual, empresa com CNPJ e até, vejam só, uma conta num banco!

Espero que vocês gostem, comprem muitas camisetas, enviem sugestões e elogiem bastante! hahahaha
eis o endereço:


Já temos até twiter, blog, facebook e orkut. Na verdade, na verdade, todos na empresa são amarradíssimos nessas novas ondas da virtual-socialização e por isso, nossas redes socias ainda estão meio capengas... Por isso, nos ajudem! Nos dêem um helps! Vamos divulgar a marca Catavento! É tudo muito bonitinho, desde o logotipo até as embalagens de madeira!

Beijos e abraços!!

A seguir, a linha "Sem eira, nem beira, nem tribeira", com desenhos feitos por mim que serviram primeiro para ilustrar o livro de poesias de meu pai que leva o mesmo nome da linha de camisas.



Essa foi a descrição que minha irmã fez da linha, depois desse texto, feito por ela, fiquei tão metido a besta que parei de falar com todo mundo! Até deixei de escrever no blog! Mas felizmente, para minha sorte, a gabolice já tá passando! Quem me conhece mais de perto sempre ri quando lê a descrição, não do texto que é escrito de forma sensacional, eu sei que é de mim que todos riem! Quem não me conhece e lê isso, eu sei que vai querer me contratar na hora! Sem mais delongas, aí vai o texto:

Aqui você encontra camisetas com divertidos desenhos feitos à mão pelo arquiteto João Lucas, produzidos para o livro de poesias de João Bandeira Nogueira, “Sem eira nem beira nem tribeira”. Nascido em Fortaleza, Ceará, João Lucas optou por aperfeiçoar-se na Espanha, mais precisamente no encantador universo de Cervantes. Claramente influenciado por Quixote, seus desenhos se caracterizam pela mistura de fantasias e sonhos, com discretos traços de humor e musicalidade. Paradoxalmente, suas ilustrações também representam o real, pois boa parte de sua produção vem da natureza. Muito jovem, mas já bastante talentoso, sua criatividade inspira transformações! Reinvente-se!

sábado, 6 de novembro de 2010

uma viagem

Já fazem alguns dias que não escrevo nada no blog. Muito mais por fraqueza espiritual - criatividade zero - do que mesmo por razões maiores. Até pensei em falar algo sobre a vitória da Dilma, ou mesmo sobre aquela mocinha infeliz que mandou matar afogados os nordestinos... pobre criaturinha sem cultura e sem inteligência, provavelmente mesmo até sem mãe - é a típica filha de chocadeira. Mas não, não me empolguei sobre tais temas. Já estava cansado do clima tenso dessas eleições e não estava disposto a perturbar-me ainda mais com isso.
Porém, bem que eu queria dizer que não escrevi porque estava viajando. Na verdade, longe disso eu estava, mas bem que eu queria. E conversando ontem com o Saddam (não o Hussein, o Barroso), resolvi pensar numa viagem que gostaria bastante de fazer. Daquelas que vem um entrevistador e pergunta: "Uma viagem?", e eu de bate-pronto responderia: "No tempo!". E é exatamente isso. (Re)Descobri o quanto gosto de história (estou sempre (re)descobrindo isso). Deve ser uma veia hereditária. Meus pais são pesquisadores inveterados de histórias da família, árvores genealógicas, pesquisam as cartas das câmaras de suas cidades natalícias. Enfim, a viagem que eu mais gostaria de fazer e que provavelmente nunca farei é uma viagem no tempo. Não precisava nem ir para outras terras. Eu podia ficar aqui, bem paradinho. Bastava retroceder alguns anos. 20 anos. Depois 30. 40. 50. E assim eu ia tendo minhas impressões reais sobre o passado, essa cidade cada dia mais distante que possui sua fisionomia filtrada pelo funil do tempo...

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

quando os homens se tornam um mero detalhe...

O Falcão sempre diz que daqui a uns anos quem não for viado ou corno nem entra em casa! É certo que com todas as Sachas, inseminações artificiais, possibilidades de adotar, o homem tem virado cada vez mais um item supérfluo. Ainda mais com o crescimento dessa nova figura que são os metrossexuais, parece que nós velhos machos brutamontes estamos virando espécie cada vez mais em extinção. Inclusive, vejam só, andando pelas ruas de nossa Fortaleza, vi um estabelecimento comercial chamado "Pra quê marido?" em que a mulher que esteja sozinha em casa sem conseguir trocar a lâmpada, por exemplo, liga para o dito comércio que logo envia um "marido" para exercer o masculino serviço. Pois vejam o início desses novos tempos: uma moça Taiwanesa resolveu se casar. Como não arranjava um pretendente digno, à altura, resolveu casar-se sozinha! Isso mesmo! Casou-se consigo mesma, com aquele velho grito de guerra de quem está querendo sair da fossa: "eu me amo!". Aqui está a reportagem:


"Mesmo sem noivo, uma mulher taiwanesa pretende realizar no próximo mês uma cerimônia de casamento. Ela, inclusive, mostrou o vestido de noiva que irá usar no dia, segundo reportagem da emissora norte-americana de TV "Wesh".
A mulher identificada como "Chen" contratou uma cerimonialista para cuidar do planejamento. Ela pretende fazer uma festa para 30 convidados. "Eu não encontrei um parceiro. Então, o que eu posso fazer?", questionou Chen.
Ela destacou que espera expressar uma ideia diferente sobre o casamento. Chen acrescentou que, se achar um pretendente depois, vai se casar novamente. Apesar do casamento individual, a mulher irá passar lua-de-mel na Austrália após a cerimônia."

Lembrei-me então dessas duas crônicas do grande Xico Sá, em que ele define muito bem as diferenças entre um macho-jurubeba e um reles metrossexual. Eis:

CASA COR DO MACHO SOLTEIRO
(Xico Sá) 

"Noves fora o “homem de predinho antigo”, aquela criatura "evoluída" que adora um pé-direito alto, um sofá de época, objetos de design e uma luz indireta, o MACHO SOLTEIRO ROOTS é um desastre no capítulo decoração. Tem lá o seu sofá velho, a sua tv, uma cama barulhenta, três ou quatro panelas _sem cabo_ encarvoadas pelo tempo, e copos de requeijão, muitos copos de requeijão, alguns deles ainda com um pedaço do papel do rótulo. Se brincar, o cara coleciona também os velhos copos de geléia de mocotó, um primor de utensílio “vintage”.

E quando a fofa, toda fina e fresca, nova namorada, chega lá no “muquifo” com a sua garrafa de champanhe?! Procura, procura as taças, para fazer uma graça com o marmanjo, e nada. O jeito é beber Veuve Cliquot em copo de extrato de tomate. Quem mandou apaixonar-se por um macho-jurubeba autêntico, que vem a ser justamente o avesso do metrossexual, aquele mancebo da moda que se lambuza de creminhos da Lancôme e decora o loft, sim, ele mora num loft, de acordo com as tendências da revista “Wallpaper”.

Pior é quando ela tenta mudar tudo. E põe aquele seu quadro caríssimo e de grife numa sala que não tem nem mesmo um sofá que preste?!

Um desastre.

A fofa, toda classe média metida a besta, não desiste nunca. Ai presenteia o bofe -sim, ela está doida e perdidinha pelo vagabundo- com uma batedeira prateada ultramoderna com 600 funções, que nunca será usada. Ai fica aquela batedeira high-tech fazendo companhia aos três pratos chinfrins e aos garfos tortos _como se o Uri Geller, aquele parapsicólogo que aparecia no Fantástico das antigas, tivesse jantado por lá ou feito faxina na área.

Ela começa a revirar geral, um deus-nos-acuda, numa casa onde ninguém havia mudado sequer uma planta de lugar. O reino vegetal, aliás, é outro ponto fraco do macho solteiro. Jarros, flores? Nem de plástico. 

Na casa do homem solteiro típico, a utilidade triunfa sobre a estética. O cúmulo do utilitarismo. Sofá da tia-avó vira cama, como diz a minha amiga D., co-autora dessa crônica. A cama vira sofá, a rede vira sofá e cobertor, o cobertor vira cortina preso à persiana...

A falta de cortina é outra marca registrada do desmantelo do cavaleiro solitário. Quando muito, papel filme.

Abajur? De jeito maneira. Tosco no último, ele não tem cultura de luz indireta, nem nunca terá, esqueça.

Outro traço de personalidade do macho solteiro: tudo que chega até a cozinha vira tupperware -aquelas embalagens plásticas de lasanha comprada pronta, caixinha de entrega de comida chinesa ou japonesa, potes de sorvete... Uma festa!

Sim, na geladeira só latinhas de cerveja, uma garrafa de água vazia e uma triste e chorosa cebola partida ao meio."

e esta...

MODOS DE MACHO - A capanga e a vida
(Xico Sá)

(BR Press) - "Ao me deparar esta semana, em um banheiro de um moderno restaurante de São Paulo, com dois homens, aparentemente héteros, discutindo sobre técnicas depilatórias e cremes básicos para uma nécessaire masculina, me veio ao cocoruto, imediatamente, a velha imagem da capanga e o kit máximo permitido por um macho-jurubeba.

Como bem sabemos, amigo, o macho-jurubeba é o macho-roots, a criatura de raiz, o sujeito tradicional e quase em extinção nos tempos modernos. Um personagem que nos parece nostálgico e, de algum modo, folclórico, mas perfeito para nos revelar o universo dos marmanjos até meados nos anos 1990 – quando Deus fez, de uma costela do David Beckham, o ser doravante conhecido como metrossexual.

Vasculhemos, pois, a capanga, usos, costumes higiênicos e os arredores antropológicos deste predador do nosso paleolítico. Era, sim, naturalmente vaidoso o macho popular brasileiro. Aqui encontramos os vestígios: um espelhinho oval com o escudo do seu time ou uma diva em trajes sumários, um pente nas marcas Flamengo ou Carioca, um corta-unhas Trim ou Unhex, um tubo de brilhantina, um frasco de leite de colônia, uma latinha de Minâncora e outra de banha de peixe-boi da Amazônia em caso de eventuais ferimentos, calos ou cabruncos.

Em viagens mais longas, barbeador, gillette, pedra-hume –o seu pós-barba naturalíssimo, nada melhor para refrescar a pele e fechar os poros. Alguns pré-modernos e distintos se antecipavam aos novos tempos usando também Aqua Velva, a loção para o rosto utilizada pelos “homens de maior distinção em todo o mundo”.

Vemos aqui também, no kit do macho-jurubeba, emplasto poroso Sabiá, pedras de isqueiro com a marca Colibri e um item atual até nossos dias, o polvilho antisséptico Granado, afinal de contas a praga do chulé é atemporal e indisfarçável. O lenço de pano nem se comenta, não podia faltar nunca.

Ainda no capítulo do asseio corporal e dos bons tratos, façamos justiça às moças. Elas adoravam tirar nossos cravos e espinhas, atitude hoje cada vez mais rara – se alguma o fizer, amigo, a tenha na mais alta conta, a abençoada filha de Eva te ama mesmo.

Objeto de investigação e estudo do caboclo pré-metrossexualismo, a capanga dos mais espertos continha ainda um canivete e, para eventuais dores de macho, cachetes de Cibazol. 

Aí, porém, já saímos um pouco dos cuidados estéticos e vasculhamos outros armarinhos de miudezas do vasto museu deste homem que – para o bem ou para o mal – já era."

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Capas de LPs

Recebi esse email outro dia e achei bastante engraçado. No email diz que não é só com Photoshop que se pode brincar com fotos. As fotos ficaram muito legais, não sei se mais pela situação ridícula em que fizeram a pose para a foto (esse muçulmano do final é de lascar...) ou se pelas próprias capas dos discos. Vejam que beleza!


















sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Porque votar no Serra.

Para quem ainda não decidiu seu voto, aí vão os óóótimos motivos para se votar no Serra...



clique aqui e também atire bolinhas de papel no Serra!

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

O que é que é isso?!

Impressionante a diferença entre as reportagens das duas emissoras. É isso a imprensa livre que engrandece a democracia? Claro que ninguém aqui concorda com brigas, confusões, tumultos etc, eu sempre achei, principalmente depois de levar um murro na cara, que um ser humano que bate em outro está mais para um bicho completamente irracional do que para gente de verdade. Como diria o Campos de Carvalho:

"Não sou exatamente o que se pode chamar de um perfeito otimista - sobretudo quando se trata da bondade humana - mas penso que, depois do Cristo e do Diabo, nunca é demais esperar que o homem se volte finalmente para si mesmo e se descubra qualidades até aqui insuspeitadas, capazes de fazê-lo amar ao próximo já não digo como a si mesmo, mas pelo menos como à mulher do vizinho, ou à cunhada, ou à secretária - de qualquer forma, não pensando em seu semelhante como um inimigo mortal, mas como um animal pelo menos tão digno e nobre quanto um cavalo, mesmo que seja um cavalo selvagem e à primeira vista indomesticável, às ventas para o ar. Tratado humanamente, até o cavalo mais bravio se torna humano - da mesma forma como um tratamento desumano pode acabar tornando o homem, como se diz, um verdadeiro cavalo."

Não sei se o Serra contratou a Globo ou se a Globo contratou o Serra. Provavelmente ele vai estar na próxima novela das 8. Aí vai a reportagem da Globo e em seguida a do SBT. A gente vê a bolinha de papel quicando e caindo devagarinho. É cômico! O Rivaldo levou suspensão da Fifa quando fez isso na copa, alguém se lembra?!

da Globo...

do SBT...

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

O ato dos artistas e intelectuais

Lindíssimo o ato. Para quem não viu, aí vai o vídeo. Emocionante o comecinho, com a homenagem do Leonardo Boff a Oscar Niemeyer. Uma beleza.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

o refrão dos candidatos

Com essa história do aborto e de termos uma candidata evangélica, as igrejas tiveram um peso tão grande nessas eleições, que lembrei-me de uma música do Falcão, em que o refrão traduz esses dias de campanha. Para quem não conhece esse super hit primeiro lugar das paradas de sucesso, "Canto Bregoriano II" aí vai a pérola Falconesca, esse arquiteto pereirense que é "lindo, bonito e joiado".


P.S.: Cliquem aqui e vejam no Blog do Nassif, o aúdio da missa dos romeiros em Canindé, quando apareceu uma comitiva do candidato José Serra, acompanhado de Tasso Jereissati e Lúcio Alcântara!



Canto Bregoriano II
(Falcão / Tarcísio Matos)

Se me tornei um pecador
E não segui a sua lei
Não rogai por mim, senhor
Como manda o versículo 16

Tomai, comei, disse o senhor
Mas o senhor há de notar
Que na circunstância em que eu estou
Rerum Novarum é de lascar

Aporrinharei o senhor (aporrinharei)
Perturbarei o senhor (perturbarei, perturbarei)
Emputarei o senhor (ôôôô)
Enquanto o senhor não me pagar

Populorium progresso
Diz o ditado japonês
Tudo o que eu tenho eu devo a ti
Dizia Machado de Assis

Veronia secula seculorum
Vivo nessa exploração
Para o patrão prolabore
E na patena vai o pão

domingo, 17 de outubro de 2010

beber, cair e levantar - O Filme

Como bem disse a Caroline, "Beber, cair e levantar" já foi filmado e foi um grande sucesso! É um vídeo engraçadíssimo do Youtube, em que um pobre coitado tenta a todo custo equilibrar-se de pé, apoiado pela sua bicicleta. Na verdade, é a bicicleta quem o leva. O rapaz está entregue, trupicando, passou há muito tempo para o lado negro da força. Tem dois melhores momentos, um quando chega um carro vermelho, desce um cara para ajudar e enquanto ele está ajudando... o carro vai embora! Desovou o chato junto com o bêbado no meio da estrada! E o outro momento é quando ele cai por cima da bicicleta... tenta se levantar e... cai do outro lado, por baixo da bicicleta! Nem a Daiane dos Santos conseguiria um passo desses! Vamos fazer uma ala no Peidar e Sapatear chamada "Beber, cair e levantar"!!!! Só sucesso!

sábado, 16 de outubro de 2010

Beber, cair e levantar

Hoje a Isabelle me levou para assistir ao filme "Comer, rezar e amar". No geral o filme é bom, serve de entretenimento. Tem seus momentos mais tocantes, desses que fazem escorrer uma lágrima no rosto da namorada. Tem momentos que dá vontade de esbofetear a cara da Julia Roberts pra ela deixar de ser Zé Mané. Mas tiveram alguns detalhes bairristas que me desagradaram. Me pareceu falta de cuidado, falta de pesquisa, não sei... primeiro quando o rapaz lá diz que aqui no Brasil os pais têm costume de falar com filhos dando um beijinho na boca. Nunca vi esse costume por aqui, pelo contrário, é difícil ver um pai dando um beijo nos filhos, quanto mais na boca. Assim como os filhos nos pais. Eu tentei cultivar o hábito de dar um beijo na carequinha do papai. Não consegui, são raros esses momentos. Se fosse assim no Brasil, aquele italiano que dava beijinhos na filha em uma piscina em uma barraca de praia aqui em Fortaleza teria tido melhor sorte e provavelmente não teria sido preso. Quem sabe ele não leu o livro antes de vir para cá?
O segundo detalhe é sobre o papel do Javier Bardem. Ele interpreta um brasileiro e por várias vezes se arrisca no português. Péssimo. Sotaque de gringo até as goelas. Parece que ele aprendeu a frase ali, segundos antes da gravação. Depois do filme ficamos eu e a Isabelle pensando em algum ator brasileiro que pudesse estar naquele papael. Dos que conseguimos pensar ou eram muito novos ou não tinham metade daquela cara de homem do Javier Bardem. Se alguém se lembrar de um ator que grite aqui! Ou será melhor gravarmos um "Beber, cair e levantar"?...

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

um pouco mais de política

Continuando com os textos de Maria Rita Kehl, esse foi o último que ela publicou pelo Estadão. Cada texto melhor do que o outro. Este é incrível.



Dois pesos...

(Maria Rita Kehl)

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apóia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela presidência da república. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro. 

Se o povão das chamadas classes D e E – os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil – tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa esmola. 

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por “uma prima” do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da bolsa-família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés-de-chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela bolsa-família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido ,fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. 200 reais é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola. 

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso Passava-se fome, na certa, como no assustador “Garapa”, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A bolsa família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da “esmolinha” é político e revela consciência de classe recém adquirida. 

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da bolsa família, que apesar de modesta, reduziu de 12 para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem idéia do quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de 200 reais? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou este efeito de “acumulação primitiva de democracia”. 

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas em seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do país. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano 

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do país, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática , parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

sobre o aborto

Vamos lá, botar lenha na fogueira. Falar de assuntos polêmicos. Colocarei aqui a coluna que a psicanalista Maria Rita Kehl escreveu para o "Estadão", de onde terminou demitida por apresentar suas opiniões políticas. O texto é fantástico e abre espaço para muita discussão. Aí está.

Repulsa ao Sexo
(Maria Rita Kehl)

"Entre os três candidatos à presidência mais bem colocados nas pesquisas, não sabemos a verdadeira posição de Dilma e de Serra. Declaram-se contrários para não mexer num vespeiro que pode lhes custar votos. Marina, evangélica, talvez diga a verdade. Sua posição é tão conservadora nesse aspecto quanto em relação às pesquisas com transgênicos ou células–tronco. 

Mas o debate sobre a descriminalização do aborto não pode ser pautado pela corrida eleitoral. Algumas considerações desinteressadas são necessárias, ainda que dolorosas. A começar pelo óbvio: não se trata de ser a favor do aborto. Ninguém é. O aborto é sempre a última saída para uma gravidez indesejada. Não é política de controle de natalidade. Não é curtição de adolescentes irresponsáveis, embora algumas vezes possa resultar disso. É uma escolha dramática para a mulher que engravida e se vê sem condições, psíquicas ou materiais, de assumir a maternidade. Se nenhuma mulher passa impune por uma decisão dessas, a culpa e a dor que ela sente com certeza são agravadas pela criminalização do procedimento. O tom acusador dos que se opõem à legalização impede que a sociedade brasileira crie alternativas éticas para que os casais possam ponderar melhor antes, e conviver depois, da decisão de interromper uma gestação indesejada ou impossível de ser levada a termo. 

Além da perda à qual mulher nenhuma é indiferente, além do luto inevitável, as jovens grávidas que pensam em abortar são levadas a arcar com a pesada acusação de assassinato. O drama da gravidez indesejada é agravado pela ilegalidade, a maldade dos moralistas e a incompreensão geral. Ora, as razões que as levam a cogitar, ou praticar, um aborto, raramente são levianas. São situações de abandono por parte de um namorado, marido ou amante, que às vezes desaparecem sem nem saber que a moça engravidou. Situações de pobreza e falta de perspectivas para constituir uma família ou aumentar ainda mais a prole já numerosa. O debate envolve políticas de saúde pública para as classes pobres. Da classe média para cima, as moças pagam caro para abortar em clínicas particulares, sem que seu drama seja discutido pelo padre e o juiz nas páginas dos jornais. 

O ponto, então, não é ser a favor do aborto. É ser contra sua criminalização. Por pressões da CCNBB, o Ministro Paulo Vannucci precisou excluir o direito ao aborto do recente Plano Nacional de Direitos Humanos. Mas mesmo entre católicos não há pleno consenso. O corajoso grupo das “Católicas pelo direito de decidir” reflete e discute a sério as questões éticas que o aborto envolve. 

O argumento da Igreja é a defesa intransigente da vida humana. Pois bem: ninguém nega que o feto, desde a concepção, seja uma forma de vida. Mas a partir de quantos meses passa a ser considerado uma vida humana? Se não existe um critério científico decisivo, sugiro que examinemos as práticas correntes nas sociedades modernas. Afinal, o conceito de humano mudou muitas vezes ao longo da história. Data de 1537 a bula papal que declarava que os índios do Novo Continente eram humanos, não bestas; o debate, que versava sobre o direito a escravizar-se índios e negros, estendeu-se até o século XVII. 

A modernidade ampliou enormemente os direitos da vida humana, ao declarar que todos devem ter as mesmas chances e os mesmos direitos de pertencer à comunidade desigual, mas universal, dos homens. No entanto, as práticas que confirmam o direito a ser reconhecido como humano nunca incluíram o feto. Sua humanidade não tem sido contemplada por nenhum dos rituais simbólicos que identificam a vida biológica à espécie. Vejamos: os fetos perdidos por abortos espontâneos não são batizados. A Igreja não exige isto. Também não são enterrados. Sua curta existência não é imortalizada numa sepultura – modo como quase todas as culturas humanas atestam a passagem de seus semelhantes pelo reino desse mundo. Os fetos não são incluídos em nenhum dos rituais, religiosos ou leigos, que registram a existência de mais uma vida humana entre os vivos.

A ambigüidade da Igreja que se diz defensora da vida se revela na condenação ao uso da camisinha mesmo diante do risco de contágio pelo HIV, que ainda mata milhões de pessoas no mundo. A África, último continente de maioria católica, paupérrimo (et pour cause...), tem 60% de sua população infectada pelo HIV. O que diz o Papa? Que não façam sexo. A favor da vida e contra o sexo – pena de morte para os pecadores contaminados. 

Ou talvez esta não seja uma condenação ao sexo: só à recente liberdade sexual das mulheres. Enquanto a dupla moral favoreceu a libertinagem dos bons cavalheiros cristãos, tudo bem. Mas a liberdade sexual das mulheres, pior, das mães – este é o ponto! – é inadmissível. Em mais de um debate público escutei o argumento de conservadores linha-dura, de que a mulher que faz sexo sem planejar filhos tem que agüentar as conseqüências. Eis a face cruel da criminalização do aborto: trata-se de fazer, do filho, o castigo da mãe pecadora. Cai a máscara que escondia a repulsa ao sexo: não se está brigando em defesa da vida, ou da criança (que, em caso de fetos com malformações graves, não chegarão viver poucas semanas). A obrigação de levar a termo a gravidez indesejada não é mais que um modo de castigar a mulher que desnaturalizou o sexo, ao separar seu prazer sexual da missão de procriar."

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Sempre 8 ou 80 - Crossfit


As pessoas costumam me achar sempre 8 ou 80, nunca meio termo. Dizem que sempre sou intenso no que vou fazer, feito um maluco. Recebo as novidades como se fossem a descoberta da minha vida e martelo naquilo até me acabar. Ano passado resolvi me exercitar e passei a pedalar uns 20 km todos os dias de manhã e correr 6km à tarde, até que roubaram minha bicicleta e estou parado até hoje, bem barrigudinho, ou como diz meu cunhado, com o "Panceps" bem desenvolvido. Estou voltando, voltei a treinar capoeira e agora só quero andar de abadá e cantando canções sobre mestre Bimba ou Pastinha. 
Essa introdução foi pra contar que minha irmã disse que achou o exercício perfeito para mim. Diz ela que quando viu a reportagem, lembrou-se de mim na mesma hora. Me ligou, me enviou por email. É um negócio chamado Cross Fit. Feito por um doido, para doidos. As pessoas levantam peso, pulam, correm até se acabar. Terminam deitados no chão, quase desmaiando. Para quem se interessar aí está a reportagem da revista Época. Já comecei a montar uns halteres para mim feitos de lata de tinta cheias de concreto e brita... Dessa vez ninguém vai roubar os meus halteres...


O CrossFit exige superação ou é um exagero? 


Cada dia o programa de exercícios escrito na lousa tem um nome de mulher. Hoje é Elizabeth. Até o fim da prática ela será amada e odiada. Depois de tirar uma pesada barra do chão e apoiá-la nos ombros 45 vezes. Depois de fazer movimentos de sobe e desce nas argolas suspensas, em séries de 21, 15 e nove repetições, em ritmo frenético. Depois disso tudo, os alunos se jogam no chão para recuperar as forças. Eles não são atletas profissionais nem soldados. São gente comum querendo manter a forma e se preparar para suas atividades esportivas e de lazer. Musculação e corrida, para eles, não bastam. Eles vieram ao CrossFit para treinar até cair. Eles são praticantes do programa de condicionamento físico mais exigente do mundo.
A ideia de misturar levantamento de peso com ginástica olímpica e certo rigor militaresco para treinar pessoas comuns ocorreu há mais de 20 anos ao americano Greg Glassman, hoje um cinquentão pançudinho que lucra com o sucesso de seu treinamento. Na visão dele, era preciso unir num programa só o que cada modalidade esportiva tinha de melhor – a força dos levantadores de peso, a capacidade cardiorrespiratória dos corredores, o aprendizado rápido dos ginastas e a habilidade para saltar e arremessar dos praticantes do atletismo – e então formar os atletas mais condicionados do mundo.
Usando estratégias tão variadas quanto erguer barras, caminhar com um amigo nas costas e saltar sobre uma pilha de pneus, Glassman montou sequências de movimentos que aceleram os batimentos cardíacos rapidamente e exaurem os músculos em poucos minutos. Um praticante de elite, segundo ele, pode alcançar uma potência dez vezes maior do que a atingida em sessões normais de condicionamento físico. A exigência física pode ser tão forte que alguns iniciantes vomitam na primeira sessão.
A base do método são movimentos que usam as funções mecânicas naturais do corpo – como avançar, saltar, abaixar e arremessar – realizados muitas vezes em ritmo acelerado, com várias repetições e carga elevada. O diferencial é a variação de exercícios. O momento mais importante de cada aula é o WOD (workout of the day, exercício do dia), que concentra os exercícios de maior intensidade. Num dia, o WOD pode ser de apenas cinco minutos de flexões e levantamento de peso. No outro, 40 minutos de corrida leve e lançamento de bola na parede. Cada um dos participantes trabalha com pesos, tempos e número de repetições adequados a seu condicionamento.
Segundo Tony Budding, diretor de comunicação da empresa CrossFit, com sede nos Estados Unidos, a marca tem mais de 2 mil ginásios afiliados em diferentes países e mais de 20 mil professores certificados. O site na internet (Crossfit.com), que inclui artigos e inúmeros vídeos enviados pela comunidade de seguidores, registra cerca de 3 milhões de visitas por mês. Ali, além dos WODs oficiais que vão sendo renovados diariamente, a comunidade de praticantes coloca comentários sobre sua própria experiência com o treinamento. Alguns se dizem viciados.
Parte do fanatismo se deve à postura destemida que os crossfiteiros adotam. Lemas como “A dor é a fraqueza deixando seu corpo” servem de motivação para os praticantes encararem as dificuldades como desafios e desejarem resultados melhores a cada treino. Há um clima de “vamos ser campeões”, sendo cada um o próprio adversário. Nos ginásios, os resultados dos alunos são expostos numa lousa para que todos possam ver.
Os crossfiteiros se orgulham de não ligar para espelhos, máquinas modernas e qualquer tipo de “frescura” associada às academias convencionais, onde, acreditam eles, os clientes não gostam de treinar de verdade. Os espaços de CrossFit em qualquer lugar do mundo são simplórios e algo nostálgicos. Os equipamentos usados são normalmente barras móveis e fixas, bolas com peso, halteres, corda de pular e de escalar, bancos para saltar, elásticos e kettlebells (uma espécie de bola de ferro com alça para erguer do chão até acima da cabeça). O máximo de maquinário é um remo ergômetro.
O primeiro CrossFit licenciado no Brasil abriu as portas no final do ano passado, em São Paulo, e já tem admiradores fiéis. Um dos primeiros alunos foi Luiz Renato Oliveira, de 36 anos, lutador de full-contact e jiu-jítsu desde a adolescência. Ele conta que havia muito tempo já fazia uma preparação física para a luta baseada em musculação e movimentos funcionais, mas nunca havia experimentado um treino tão intenso e eficaz quanto o CrossFit. “Agora sinto que estou preparado para qualquer coisa. Fiz snowboard sem sentir nenhuma dor”, diz ele. “Na luta, além de me sentir mais forte e confortável, parei de me machucar.”
Honorio Lisboa Neto, de 58 anos, é outro convertido. Ele diz que passou a vida tentando frequentar academias, mas nunca ficava por mais de dois meses. Até o início do ano, a única atividade física que o atraía era a escalada em rocha, que só acontecia nos fins de semana. “Quando descobri isto aqui foi uma maravilha”, diz um Honorio ainda ofegante. Ele tinha acabado de terminar um exercício de 12 minutos intercalando o lançamento de bola medicinal para o alto com um movimento chamado Burpee, que consiste em encostar o peito no chão, ficar de pé e bater as mãos acima da cabeça. Sem intervalos, claro. “Já vejo os resultados na escalada, mesmo sem um treinamento específico, diz Honorio.
Outro lema do CrossFit é que ele é para todos, mas não para qualquer um. O professor Joel Fridman, que conheceu o CrossFit no Canadá e o trouxe para o Brasil, acredita que o pré-requisito é a vontade de melhorar. “Já vi pessoas de todas idades, gente sem perna, sem braço, grávidas, crianças, militares e donas de casa começando a treinar”, afirma. “O que a maioria busca é qualidade de vida.” Há restrições? “Nossa proposta é elevar o condicionamento físico, partindo do estágio inicial da pessoa. As bases e os fundamentos do treino são feitos para qualquer situação”, diz Fridman.
Mas há razões para desconfiar que nem todo mundo se beneficia de um trabalho físico tão intenso. Em 2005, Glassman, o precursor americano, teve de se pronunciar sobre casos de rabdomiliólise envolvendo seus treinos. A rabdomiliólise é uma lesão muscular severa que libera pedaços de células musculares para dentro dos vasos sanguíneos e pode levar a uma insuficiência renal aguda. Glassman publicou um artigo em seu jornal on-line em que diz que as vítimas eram pessoas fisicamente treinadas, mas ainda despreparadas para os altos níveis de intensidade que o CrossFit exige dos mais experientes. Um dos símbolos visuais do CrossFit é Uncle Rhabdo, um palhaço repugnante, cheio de feridas, com um rim pendurado fora do corpo. É um jeito meio rude que os praticantes usam para se gabar – e para recomendar aos novatos que progridam respeitando seus limites.
Os especialistas ainda não estão convencidos sobre as vantagens da nova modalidade de exercícios. O fisiologista e professor de educação física Raul Santo, da Universidade Federal de São Paulo, explica que a variação constante na duração e na intensidade dos exercícios, embora positiva, mexe com o metabolismo de uma forma que pode sobrecarregar o sistema cardíaco em algumas pessoas. “Para buscar performance é preciso ter saúde primeiro”, diz ele. Para Julio Serrão, professor de biomecânica da Universidade de São Paulo, os resultados são mais rápidos quando se aumentam o volume e a intensidade dos exercícios, mas o risco de lesão aumenta junto.
Munida das recomendações e confiante em meu preparo físico (oito anos de ginástica localizada, dez de musculação e um de iniciação ao circo), resolvi experimentar o CrossFit. O desafio inaugural foi pesado: mais de 100 agachamentos rápidos, feitos em séries de oito segundos, com apenas dez de descanso. Ele me rendeu dor muscular por três dias e vontade de xingar o professor. Passado o sufoco, minhas primeiras duas semanas de aula foram bem menos dolorosas do que eu imaginava. O treinamento mais difícil virá gradualmente, depois de muita ênfase na técnica. Mas há um pré-requisito imprescindível para quem quer tentar o CrossFit: gostar de se mexer. Muito.




segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dar dinheiro aos mais ricos os torna “vagabundos”? - do blog do Sakamoto

Pois, em primeiro lugar, já fazem alguns dias que não posto nada no blog, é que eu tava metido em umas festas esse fim de semana que não me deram muita disposição para estar em frente ao computador. De qualquer modo, hoje já estou voltando à ativa, mas com um texto que não é meu, é que minha irmã escolheu uns 4 ou 5 blogs para acompanhar e dos quais é leitora assídua e de vez em quando me vem com um ótimo texto. Esse ela me enviou por email, tirado do blog do Sakamoto. Vou reproduzir aqui o texto. Leiam! É formidável!


"Por Deus! Não estamos elegendo um pastor ou uma freira
Não deixe o spam ser um grande eleitor neste segundo turno"


"Dar dinheiro aos mais ricos os torna “vagabundos”?
(Leonardo Sakamoto)

O caminho para transformar políticas de governo em políticas de Estado é lento e difícil. Ao que parece, os partidos de oposição perceberam que não conseguirão apoio das classes populares sem garantir que manterão ou ampliarão determinados programas, como os de transferência de renda, vinculados ou não à educação – que tiveram seu início na era FHC e passaram por um processo de universalização no governo Lula. Programas que contribuíram, e muito, para movimentar a economia em locais antes estagnados.
Considerando que a renda de capital foi estratosfericamente maior que a renda do trabalho e os recursos usados para o pagamento de juros foram bem maiores que os usados para os programas sociais (em todos os governos, de FHC a Lula), fico extremamente incomodado quando ouço pessoas reclamando que “dar dinheiro aos pobres os torna vagabundos”.
E o dinheiro que vai às classes mais abastadas, que investem em fundos baseados na dívida pública federal? Em 2006, foram R$ 163 bilhões, enquanto os programas sociais contavam com 13% disso (dados do Ipea). Grosso modo, muito vai para poucos e pouco vai para muitos. E, mesmo assim, sou obrigado a ouvir pérolas quase que diariamente, reclamando dos programas de transferência de renda, não no sentido de melhorá-los, mas de extingui-los. É claro que é importante avançar na construção de “portas de saídas” para programas como o Bolsa-Família, gerando autonomia econômica. Mas a raiva com a qual essas iniciativas vêm sendo tratadas durante a eleição por algumas pessoas me surpreende.
E se eu dissesse que “dar dinheiro aos ricos os torna vagabundos?” Por que usar a frase para os pobres é ser um “analista sensato da realidade” e usar a frase aos ricos é ser um “$#@%# de um comunista safado”?
A conversa, abaixo, ocorreu recentemente em um local de trabalho de um bairro rico da cidade de São Paulo. Uma menina de classe média alta paulistana desabafou com sua interlocutora, recentemente integrada à classe média baixa:
- Essas bolsas ficam alimentando vagabundo! É tudo bolsa-preguiça: bolsa-escola, bolsa-faculdade, bolsa-família…
(O que ela não imaginava é que a outra pessoa era beneficiária do programa federal que concede bolsas de estudos a estudantes de graduação.)
- Bolsa-preguiça, não! Porque eu trabalho e tenho que dar dinheiro em casa, além de tudo. Bolsa-preguiça é a mesada que seu pai te dá sem que você tenha que botar a mão no bolso.
Depois disso, ainda tive que engolir um comentário de um terceiro para quem mostrei essa conversa: “pô, a bolsista tinha que apelar? Pobre é tudo mal educado mesmo.” Não, não, não, não. Ele não estava fazendo uma piada.
Dava para passar o dia discutindo o tema. Mas deixo isso para alguns comentários vazios que são gerados na internet por visões distorcidas e medos individuais, protegidos pelo anonimato covarde da tela de computador. Afinal, este post não está criticando ou elogiando partidos ou governos, mas tentando entender o que, além do preconceito, faz com que um cidadão que tenha um pouco mais na conta bancária acredite que pisar no andar de baixo é a solução para galgar ao andar de cima? E que o futuro do país é feito uma Arca de Noé, com espaço para salvar pouca gente do dilúvio iminente?
Para esse pessoal, é cada um por si e Deus – proporcionalmente ao tamanho do dízimo deixado mensalmente – para todos. Fraternidade e solidariedade são palavras que significam “doação de calças velhas para vítimas de enchente”, “brinquedos usados repassados a orfanatos no Natal” ou “uma doaçãozinha limpa-conciência feita a alguma ONG”. Nada sobre um esforço coletivo de buscar a dignidade para todos, porque todos (teoricamente, apenas teoricamente) nascem livres e iguais."