quarta-feira, 8 de setembro de 2010

um aboio para o tanger da vida

Meu personagem de hoje é uma figura tão interessante que mais parece ter sido removido diretamente de um livro do Monteiro Lobato. E realmente ele é um desses sujeitos que existem para que a história não morra nunca. Creio que a cada geração nasce um homem-referência desses que servem de inspiração pra Monteiros, Guimarães, Suassunas etc. E meu personagem é um deles. Não perde em nada para o Chicó, aquele que enche a cabeça de João Grilo com suas histórias fabulosas. Seu nome perdeu-se no tempo, é conhecido apenas por "Baé". Tem a pele estragada de quem esturricou muitos anos no sol do sertão, assim, sua aparência é a de ter bem mais idade do que realmente deve ter, se bem que sua idade também deve ter-se perdido na história ou em uma de suas histórias...
O Baé é uma espécie de jóia de família. Vem conosco desde meu bisavô. Andava com ele na garupa do jumento, ainda menino, enquanto meu bisavô dava-lhe beliscões na perna. Ontem, nos contou na hora do almoço, que quando meu bisavô morreu o mundo acabou-se pra ele. Mas que nada. Estava apenas começando. Viveu aventuras com meu tio, o irmão mais velho da mamãe, que foi criado pelos avós. Aventuras para "Peixe Grande" nenhum botar defeito. E que assim como em Peixe Grande, não dá pra saber o que é mesmo verdade e o que é pura arte, estética, embelezamento. Mas isso também não importa.
Agora, o Baé já não está mais na fase de viver suas aventuras, mas de contá-las. Chega um instante em  que se levanta e vai pra casa, dizendo que já está cansado de tanto inventar. Mas ele agora está aqui em minha casa, veio de sua terra passar uns dias conosco, enquanto opera-se de uma catarata. Aproveitou e nos presentou com este aboio e esta canção que agora eu também os presenteio. Espero que gostem. Um forte abraço!



Enquanto cantava, um avião sobrevoou nossa cabeça. O piloto parecia estar querendo acompanhá-lo na cantoria e só tinha as turbinas como instrumento...

O efeito de jodl são esses golpes na voz, em que numa mesma emissão, alterna-se rapidamente uma nota de peito e uma nota de cabeça. Encontra-se muito o jodl entre os pigmeus africanos. Em quais andanças por esse mundo o Baé aprendeu a fazer isso é que eu acho que não vamos descobrir nunca!

2 comentários:

Rosane Mabel Vieira Nogueira disse...

sensacional! algo a ser preservado para todo o sempre. O Baé e realmente uma figura folclorica, rica em "causos", alegria e inocencia. Parabens JL pela iniciativa.

Belle disse...

Ele merece um documentário!

Postar um comentário